31.3.08

A Imprensa é um partido político

Hoje me surpreendi quando vi a principal manchete da Folha de S. Paulo. Pensei que tivesse dormido tanto que tinha acordado em 2010. Com essa primeira página (a imagem esta acima), a Folha faz um estardalhaço com uma pesquisa sobre a eleição que vai ocorrer daqui à dois anos e meio. Isso mostra o panfletarismo e engajamento político do jornal para favorecer um político e um partido, que no caso óbvio são: José Serra e o PSDB. Para deixar mais claro ainda esta parcialidade das notícias, a pesquisa que mostra a popularidade de Lula como a maior desde que ele chegou a presidência, fica em segundo plano na primeira página e com menos destaque que a notícia sobre o favoritismo de Serra e ainda como que numa frase dita numa conversa informal entre partidários numa mesa de bar debochando dos rivais diz: "petistas não passam da 4ª posição". Não se trata aqui de defender o Lula, longe disso, mas se é para destacar o resultado de ibope, o caso da popularidade do atual presidente seria o maior chamativo naturalmente. Um resultado de pesquisa eleitoral que vai ocorrer daqui a mais de dois anos ganhar esse tipo de destaque, mostra como o jornal age como assessor de imprensa e cabo eleitoral do candidato José Serra e também atua como se fosse uma ala do partido (PSDB) que quer ver Serra como candidato do mesmo e não Aécio Neves.
"Dossiês"
O caso do suposto "dossiê" sobre os gastos de FHC e família é emblemático sobre a atuação da grande imprensa, especialmente a revista Veja, como um partido político apêndice dos partidos de oposição PSDB e DEM (ex-PFL). O vazamento das informações não se sabe de quem partiu e o porque, pois a imprensa não quer nem saber e sim quer usar isso para dar munição a oposição que estava em banho-maria na CPI dos Cartões. É muito estranho alguém do governo Lula vazar tais informações justamente pra Veja. A revista disse que o tal "dossiê" era para chantagear a oposição (coitadinhos , né?) mas não prova isso, pois apenas sugeriu que seria para isso. Pronto, já se tornou verdade factual e o resto da imprensa reverberou isso para os quatro cantos do mundo sem verificar e esperar para fazer análises mais isentas, mas isso é pedir muito. Acho que se há um dossiê, esse mesmo foi montado pela revista Veja, com direito a suborno de funcionários e tudo (estou testando uma hipótese, como faz o Ali Kamel da Globo). Uma revista que já tentou tornar verdade, mentiras como os dólares de Cuba, contas externas do presidente (a fonte era ninguém menos que Daniel Dantas) e mostrar o presidente na capa com a marca de um pé na bunda só faltou publicar que o Lula estava escondendo o Bin Laden no Brasil e que a Al-Qaeda financiou a campanha dele. É muito clara essa articulação perfeita entre oposição e imprensa e no caso da imprensa paulista, esta é ainda mais o braço direito desses partidos. Aqui em São Paulo, o governo do estado sob comando de Serra e a prefeitura de São Paulo a mando de Kassab são quase isentos de críticas e questionamentos. O Serra é o mais blindado e a colunista da Folha Eliane Catenhêde até ironizou que o Serra era injustamente "acusado" de ser o queridinho da imprensa, mas é a pura verdade, como mostra apenas esse exemplo da imagem da primeira página da Folha de hoje. Assim como no dossiê das ambulâncias não teve nenhum esforço da imprensa em apurar o conteúdo, o governador foi defendido fielmente por esta com um atestado de inocência. Fizeram tempestade no fato de o dossiê ter sido negociado pelo PT , só para mostrar Serra e seu partido como vítimas inocentes. Quem conhece a rotina de todos os partidos em época de eleições (e isso os jornalistas de política sabem muito bem) sabe que a quantidade de pessoas que tenham informações incômodas para os candidatos (geralmente lobistas descontentes, como foi o caso das ambulâncias) ou outras que acham que podem faturar atrás de minúcias e possíveis desvios de um candidato é enorme e os partidos têm equipes para analisar tais informações e o risco de usá-las nas campanhas. É do jogo político, como dizem alguns, mas quando a imprensa entra e joga de um lado só, ainda mais quando é a mídia hegemônica, fica difícil dos leitores e telespectadores formarem uma opinião equilibrada.
Ética e Interesse Comum
Quando essa mesma imprensa acusa um governo de não ter ética, se esquece que ela também não têm, pois está ativa no jogo político favorecendo um dos lados e como todos sabem nenhum dos lados têm ética e sim interesses. Acho que também há muitos interesses comuns entre a grande mídia e esses políticos e partidos que explicam um pouco essa parceria entre eles. O interesse comum mais forte é no campo econômico, no qual as políticas devem estar voltadas a atender os poderosos grupos que fazem muita propaganda nos meios de comunicação e a famosa, pra ficar no jargão, elite.
Opinião Pública
Não se trata de defender um ou outro governo, mas a imprensa deve dar espaço a diversidade de opiniões que existe e tentar dar equilíbrio as notícias. Se o objetivo é blindar e defender tais políticos e partidos que deixem isso claro a opinião pública, pois a opinião dos donos desses poderosos veículos de informação não representam a opinião pública, mas sim privada. Muitos de nós (opinião pública) percebemos isso e devido à isso não somos "petistas", "idiotas latino-americanos" e "debilóides" como alguns articulistas e editoriais nos classificam. Divergimos sim, desse consenso midiático (lembrando Noam Chomsky) imposto, ás vezes, como "voz da sociedade brasileira".
Obs: Sei que muitos questionarão sobre a imprensa de "esquerda" ser lulista e fazer a mesma coisa que a grande imprensa. Adianto que há alguns veículos que são assim (o jornal Hora do Povo e a revista Brasil ligada a CUT são exemplos), mas a maioria dos outros (Carta Capital e Caros Amigos por exemplo) fazem muitas críticas ao governo Lula, diferente do que pensam esses que dizem isso, pois esses geralmente nunca lêem esses meios de comunicação. Outro fator importante é a abrangência dessa imprensa em relação aos grande grupos midiáticos, pois não chegam nem perto das tiragens de uma revista como a Veja, a qual chega a 1 milhão. Então acabam não tendo quase influência na formação da opinião da maioria dos leitores e principalmente dos telespectadores, pois a Globo só repercute o que sai na Veja , na Folha ou no Estadão, ainda que a internet tenha dimuído um pouco essa disparidade. Infelizmente temos que cada vez mais desconfiar da informação veículada pelos grandes grupos midiáticos (tanto aqui no Brasil como no resto do mundo) e essa outra imprensa (incluí-se também alguns blogs e mídia independente) mesmo que pequena acaba sendo o único contraponto existente.
Obs II: Esse artigo foi publicado no site do Observatório da Imprensa no endereço:

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3 comentários:

Anônimo disse...

E qual o problema em defender Lula?

Acho que não deve estar longe de ninguém que vive no Brasil atual defender.

Para mim trata-se do melhor presidente que o Brasil já teve em toda sua história.

Abç

Diego Bevilacqua disse...

Obrigado pela visita, amigo.

Aprecio sua opinião sobre a mídia.
A respeito da música sua proposta me interessa!!

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Erich Vallim Vicente disse...

Betão, por causa da minha monografia, estou lendo muito Octavio Ianni. Por isso, tirei um trecho de um texto dele sobre O Príncipe Eletrônico, que cabe bem ao seu texto: "A indústria da manipulação das consciências nos vai constranger, em futuro muito próximo, a que a consideremos como uma potência radicalmente nova, em crescente desenvolvimento, impossível de ser medida com base nos parâmetros disponíveis". Abração!