28.1.10

Tragédia, Preconceito e Interesses no Haiti

A tragédia causada pelo terremoto no Haiti matou até agora cerca de 100 mil pessoas e desabrigou 3 milhões. Uma catástrofe sem precedentes e que gerou mobilização mundial, de líderes políticos até artistas, para a causa humanitária desesperadora que passa o país. Mesmo que muitos usem isso, principalmente artistas, para fachada ou para atrair holofotes, toda a ajuda é bem vinda. O Brasil tem papel importante no país, pois está desde 2004 cumprindo missão de paz e estabilização pela ONU, os quais também sofreram baixas. O que foi pouco divulgado e discutido foi o histórico de invasão e manipulação política-econômica que os EUA exerceram no Haiti. Divulgam a história bonita que é ser o primeiro país a abolir a escravidão em 1794 e posteriormente derrotou os franceses, mas pouco falam sobre o bloqueio imposto pelos países escravistas por 60 anos devido a esse ato de "rebeldia". Os norte-americanos invadiram o país em 1915 e ficaram no poder até 1934 para cobrar dividas do Citibank e mudar a lei para permitir a venda das plantations aos estrangeiros, conforme revela o escritor Eduardo Galeano em seu excelente texto intitulado “ A história do Haiti é a história do racismo na civilização ocidental”. Além disso, os norte-americanos apoiaram diretamente as ditaduras mais sangrentas, como a dos Duvallier e o terror dos Tonton Macoutés e colocaram e retiraram Jean- Bertrand Aristides do poder. O terror e miséria do país é conseqüência direta da intervenção e imposição dos interesses dos EUA no país e ainda há os que reclamem da ajuda tanto humanitária quanto mais monetária que os países estão mandando. É triste ver como há pessoas sem um pingo de humanidade não quererem que seus países ajudem financeiramente o Haiti. É o que ocorre tanto nos EUA como no Brasil em muitas manifestações que tem na base o preconceito religioso e o racismo. O próprio cônsul do Haiti no Brasil expôs isso na Televisão sem saber que estava sendo filmado e pelo mesmo caminho grotesco foi o pastor evangélico da TV norte-americana Pat Robertson. Ambos enveredaram pelo mesmo “argumento” de que o desastre também teria sido conseqüência dos rituais de Vodu seguidos pela maioria dos haitianos. No caso desse pastor e outros conservadores dos EUA, eles apelaram em rede nacional para que a população dos EUA não doasse nada para o Haiti para não favorecer as políticas do Obama. Nesse aspecto, os conservadores de lá tem muitas semelhanças com os daqui, pois aqui não perderam tempo em criticar o governo Lula pela ajuda de cerca de 300 milhões de reais para o Haiti. O Brasil também esta passando por tragédias naturais como as enchentes que já mataram e desalojaram muitas pessoas, mas não se compara com o que ocorreu no Haiti. Aqui o governo esta ajudando e já anunciou ajuda as famílias afetadas, mas o oportunismo político para atacar Lula não é desperdiçado, como é o caso desse infeliz da RBS TV do Rio Grande do Sul chamado Lasier Martins. Clique aqui e veja o quanto uma pessoa pode ser ridícula e sem-vergonha e como pode ser manipulador um jornal. Aliás, no caso das enchentes aqui em São Paulo ninguém questiona ou critica o governador José Serra, que nessas horas some e aparece em situações estratégicas para os holofotes da mídia.
Uma outra noticia, que saiu no jornal britânico The Guardian e traduzida pelo site do jornalista Luiz Carlos Azenha, me deixou estarrecido. Há apenas 90 quilômetros do desastre no norte do Haiti, precisamente em Labadee, transatlânticos luxuosos ainda atracam em praias alugadas pelas grandes companhias de cruzeiro para os seus passageiros nadarem, andarem de jet ski e curtirem aprazivelmente o lugar bonito cheio de florestas. Essas praias são praticamente privatizadas e são seguras por homens fortemente armados, ou seja, ninguém quer ver haitianos famintos “invadindo” esses lugares que se tornaram “privados”. Aliás, o mesmo ocorre em muitas praias onde há resorts aqui no Brasil. A desculpa das empresas e autoridades haitianas, certamente corruptas, é de que investiram milhões para reformar o lugar e dão empregos há alguns haitianos, ou seja, como sempre retribuem com migalhas ao povo. Isso sim é um absurdo e mostra que mesmo um país que já passou por muitas tragédias, sendo essa a pior, os intere$$e$ acabam prevalecendo.
OBS: Este texto foi publicado no jornal A Tribuna de Piracicaba.

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14.1.10

O passado de Boris CCCasoy e o PIG

Em 1968, precisamente dia 9 de outubro, a revista O Cruzeiro ( a qual não existe mais) publicou uma reportagem sobre o movimento Comando de Caça aos Comunistas (CCC). O repórter se encontra com alguns de seus integrantes e traça o perfil de cada um deles, de acordo com o que viu e ouviu dos próprios membros do grupo. Esse grupo de cunho nazista era formado supostamente por personalidades como o âncora do jornal da Band Boris Casoy. Sim, aquele preconceituoso e racista que humilhou e debochou de humildes garis com seus coleguinhas de estúdio. Há outros também que supostamente faziam parte do bando e colaboram hoje na grande imprensa brasileira como: o advogado Roberto Ulhoa Cintra, que hoje é colaborador do jornal O Estado de S. Paulo e escreve artigos para o mesmo; o outro advogado Lionel Zaclis, o qual é articulista da Folha de S. Paulo. Há também o caso de outro suposto membro do CCC, Cássio Scatena que também é advogado, teria assassinado o operário Nelson Pereira de Jesus por reclamar do salário.
Portanto, esse é um pouco do perfil atual desses que teriam sido membros do CCC. A reportagem completa da revista está abaixo e é só clicar na imagem para ampliá-la.





Essa reportagem foi achada pelo blog hilário e crítico Cloaca News, o qual também refez o cartaz da revista sobre os integrantes do CCC e trocou com os atuais membros de outra organização que se transformou em partido político que é o Partido da Imprensa Golpista (PIG). Esse termo surgiu ma internet e é usado para denominar a grande imprensa brasileira. O "novo" cartaz está abaixo e também é só clicar para ampliá-lo.


Abaixo os nomes dos membros do PIG:
Primeira fila - Otávio Frias Filho, Mônica Waldvogel, Ricardo Boechat, Reinaldo Azevedo, Nélson Sirotsky, Arnaldo Jabor, Fernando Mitre
Segunda fila - Diogo Mainardi, Eliane Cantanhêde, Alexandre Garcia, William Waack, William Bonner, Lucia Hippolito, Josias de Souza
Terceira fila - Augusto Nunes, José Nêumane Pinto, Joelmir Betting, Merval Pereira, Clóvis Rossi, Miriam Leitão, Carlos Alberto SarDEMderg
Quarta fila - Boris Casoy, Renato Machado, Roberto Civita, Ricardo Noblat, Ali Kamel (o ator)


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13.1.10

O avanço da democracia – PNDH-3

O lançamento do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) pelo governo federal provocou a ira dos setores mais retrógrados e conservadores da sociedade brasileira: conservadores políticos, ruralistas, a grande imprensa e suas entidades patronais e os militares. Como se pode observar é uma minoria que esta fazendo um alarmismo infantil em torno das questões sérias que são trazidas pelo programa, ou seja, atira primeiro pra depois perguntar. Eu sempre enfatizo que se esses setores estão contra, então pode ter certeza que vai ser bom para o país.
O PNDH-3 nada mais é do que diretrizes para orientar a atuação do poder público perante as questões dos direitos humanos, o qual é bastante abrangente, e segue todas as convenções internacionais sobre os direitos humanos. A elaboração deste começou em 1996 com a publicação do PNDH-I e revisado em 2002 com o PNDH-II no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). Portanto, não é um programa do governo Lula, mas sim um programa de estado. Isso representa um avanço enorme no amadurecimento da democracia no país, pois traz a tona diversas questões polêmicas para serem debatidas pela sociedade para que essas não sejam escondidas ou simplesmente esquecidas como querem os críticos do programa.
Já era de se esperar que os militares iriam chiar contra o programa, pois esse traz o assunto sobre as torturas e assassinatos do período militar e indica que esses devem ser apurados. Ora, o Brasil ainda tem centenas de desaparecidos políticos desse período e houve tortura e assassinato pelo poder militar na época o que não é passível de anistia, segundo a Corte Internacional Penal. Então os fatos devem ser apurados e é isso que o PNDH sugere. Mas os militares, assim como seus ventríloquos na mídia e parte mínima da sociedade, alardeiam que o documento quer punir os crimes da época e acabar com a lei da anistia, o que não é verdade. Seria bom se esse documento pudesse fazer isso, pois a países como Argentina, Uruguai, Chile e Espanha estão fazendo isso e o Brasil está atrasado nessa questão.
Sobre a questão das ocupações de terra, o documento sugere que sejam feitas audiências dessas para diminuir a violência no campo. Isso é bom e positivo, pois vai ouvir o outro lado que nunca é ouvido e diminuir os conflitos agrários, os quais provocam a morte de muitas pessoas, que em sua maioria são: pobres do campo, integrantes de movimentos sociais, indígenas, quilombolas, religiosos ou qualquer um que questione os “poderosos” do campo. Essas audiências poderão também finalmente verificar o que os movimentos sociais estão denunciando nessas ocupações, pois é fato que a maioria dessas grandes “propriedades” não cumprem sua função social e boa parte dessas são griladas. As entidades ruralistas e seus representantes no Congresso, como a histriônica senadora Kátia Abreu, estão esperneando contra isso, pois são os maiores responsáveis pela: violência no campo, devastação dos biomas e a degradação do trabalhador rural. Há a questão do trabalho escravo, o qual esses também são contrários às fiscalizações e possíveis punições. Os ruralistas querem é que a política no campo seja a da violência empregada pela polícia nas reintegrações de posse e que o estado brasileiro deixe-os empregar trabalhadores da maneira que eles bem entenderem.
O pior é o que a grande imprensa está fazendo sobre o assunto e está cometendo uma das mais graves manipulações nas reportagens sobre o assunto para tentar enganar a população. Dissimulam e traz de volta velhos clichês da época da guerra fria para tachar o documento de ideológico e tem até aqueles (os mais loucos e paranóicos) que identificam no programa uma preparação para a instalação de uma “ditadura comunista”. Destaque para os jornais televisivos da Globo e Bandeirantes, pois quando o assunto é apurar o que houve no regime militar, estes sabem muito bem que além de apoiarem o golpe, também foram coadjuvantes nas ações dos torturadores e assassinos do estado. Vale ressaltar que o grupo Folha cedia suas peruas para transporte de presos políticos aos centros de tortura e a Globo foi a maior beneficiada com as concessões durante a ditadura, o que fez com que a sua transmissão cobrisse todo o país. A mídia brasileira é por natureza antidemocrática, ou seja, não é aberta a diversidade de opinião e pensamento. Para elaborar as “reporcagens” e “debates”sobre o assunto, são pinçados seletivamente “especialistas”, ou seja, somente aqueles que vão dizer o que previamente eles querem. É o que aconteceu com o jornal da Band com o âncora preconceituoso declarado Boris Casoy, onde a reportagem simplesmente inventou coisas que não há no programa e para “certa”legitimidade foi ouvir um “especialista” da “sociedade civil”, que nesse caso foi o tributarista Ives Gandra Martins. Esse é um notório reacionário direitista que sempre é chamado para dar sua “opinião” na grande imprensa, assim como outros “imparciais” como Bolívar Lamounier que é militante tucano. É assim que é na imprensa brasileira, onde esses tipos de “reporcagens” ou “debates” parecem mais um jogo de futebol com um time só jogando, onde um jogador cruza para o outro somente cabecear e fazer o gol. O jornal da noite da Globo do “assustador” William Waack tentou distinguir o PNDH do Lula com o de FHC. Pinçou algumas minúcias, ou seja, pequenas palavras diferentes para somente atacar o governo Lula para fazer o jogo da oposição nesse ano eleitoral. Aliás, o real motivo dessa histeria da imprensa são as eleições deste ano, pois ela se calou e até foi favorável a esse programa quando foi lançado em 2002 durante o governo FHC, como demonstra o jornalista Marcelo Salles aqui. Recomendo o ótimo texto do ex-governador de São Paulo e professor Cláudio Lembo (filiado ao DEM) publicado no Terra Magazine intitulado "Vá á fonte". Admiro o Cláudio Lembo pela independência nas suas opiniões e além de tudo é coerente com o que pensa, embora não pense igual a ele. É raro ver na direita alguém assim, pois ele até já enfrentou os coronéis do seu partido e não cede ao jogo político e sujo nas suas observações e críticas.Quem quiser seguir o conselho dele e ir direto a fonte clique aqui para baixar o documento. Há raras exceções na imprensa que às vezes esses não conseguem esconder, como a entrevista da CBN com o formulador do segundo PNDH no governo FHC, Paulo Ségio Pinheiro. Este passou um sabão no repórter e na imprensa em geral e sua entrevista é esclarecedora. Quem quiser ouvir é só clicar abaixo:

Portanto, parabenizo o Paulo Vannuchi e todos que colaboraram para a formulação desse PNDH - 3, essencial para a sociedade e que finalmente norteia o estado brasileiro a agir a favor dos direitos humanos.

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8.1.10

A Música Clássica na Rússia Stalinista

Outro dia assisti um documentário chamado “Cenas da Vida Musical na Rússia Stalinista” no canal Eurochannel. O filme mostra grandes músicos que despontaram antes e depois da revolução bolchevique em 1917, sendo que alguns já eram consagrados como os maestros Rachmaninoff e Prokofiev. É abordado as dificuldades e condições impostas aos músicos e maestros pelo regime soviético, o qual teve o período mais violento na era Stalinista. Mesmo assim, surgiram músicos e canções fascinantes naquele período como o maestro Gennady Rozhdestvensky , o qual é entrevistado. O documentário me despertou curiosidade, pois gosto bastante de música clássica, embora não seja um especialista, pois toco um pouco de piano e adoro as principais obras dos autores clássicos mais famosos como Chopin, Mozart, Beethoven, Bach dentre outros. Não conhecia esses maestros e músicos russos e fiquei impressionado de ver alguns vídeos disponibilizados na internet de apresentações destes e também mostrados no documentário. As canções clássicas da Rússia feitas na época eram de grande intensidade, começando pelo belo hino soviético que é o mesmo da Russia atual, com modificações em partes da letra, as quais foram retiradas menções ao comunismo. Também tem a cantata de Prokofiev feita em comemoração ao 60º aniversário de Stalin chamada Zdravitsa, que é uma composição muito bonita, mas infelizmente sobre um ditador sanguinário que foi esse líder soviético.
Por isso reproduzo três vídeos para quem tiver paciência e gostar de apreciar a música clássica.
O primeiro vídeo é do excelente pianista ucraniano Richter,onde parece estar um pouco acelerado, mas mesmo assim revela a técnica e precisão que ele tinha. A obra parece ser de Schubert:

O segundo video é do pianista russo Gilels tocando um prelúdio lindo de Rachmaninoff:

O terceiro e ultimo vídeo é um vídeo amador de uma apresentação da orquestra de Moscou executando uma canção patriótica soviética muito bonita chamada “Sacred War” composta por Alexander Alexandrov em 1941, o mesmo compositor do hino da União Soviética:

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6.1.10

Isso sim é uma Vergonha, Casoy!

Boris Casoy, âncora do jornal da Bandeirantes, deixou cair a sua máscara em um áudio vazado durante o final da reportagem e o intervalo, como mostra o vídeo acima. Ele debocha dos trabalhadores da limpeza pública por estarem “eles” desejando feliz ano-novo e ainda diz que são “o mais baixo da escala do trabalho”. O tom com que proferiu essas frases mostrou a sua arrogância e prepotência com que humilhou os garis e depois tentou se retratar com um pedido bem fajuto de desculpas no outro dia. Quem conhece essa figura que é Boris Casoy, sabe que ele é um ultra-reacionário e que emite as opiniões mais estapafúrdias e estúpidas na televisão brasileira. Aliás, Boris fez até escola, tanto que outros como o âncora do jornal do SBT Carlos Nascimento tenta ser pior que ele. Na verdade, essa fala do Casoy apenas evidencia o sentimento que a nossa grande imprensa tem com o povo pobre trabalhador brasileiro: nojo. É isso! Não foi um pequeno “escorregão”, “deslize” ou “gafe” do jornalista, mas é o que não só ele pensa, mas também como a maioria dos que fazem parte da grande mídia. Quando William Bonner está elaborando a pauta do Jornal Nacional, ele se refere ao telespectador como “Homer” (Homer Simpson), ou seja, são idiotas ignorantes. É esse sentimento de nojo e desprezo que estes têm não só com os garis, mas com todos os pobres que ocupam, segundo Boris Casoy, “o mais baixo da escala do trabalho”. Se o trabalhador for pobre e integrante de movimentos sociais, como os sem-terra e sem-teto por exemplo, ai o preconceito e virulência nas críticas são piores ainda. O grupo Bandeirantes ainda demonstrou mais preconceito e arrogância ao não atender e nem aceitar a entrega de uma carta do Sindicato dos Garis de São Paulo. Infelizmente, hoje em dia, os grandes meios de comunicação contam apenas com jornalistas que tem esse mesmo “senso” do Boris Casoy e William Bonner. O jornalista e escritor norte-americano Gay Talese disse em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura que hoje os jornalistas não são mais aqueles provenientes da classe trabalhadora ou chamada “classe mais baixa” como era no tempo dele. Hoje a maioria é proveniente da mesma classe dos que ocupam o poder político e empresarial, por isso têm praticamente os mesmos "pré-conceitos". Segundo ele, se perdeu o contato com o dia a dia do povo do qual ele também fazia parte. Isso cabe perfeitamente para a imprensa brasileira e explica o sentimento rancoroso de parte dessa com os pobres.

OBS: Esse desenho é do excelente Latuff.

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