4.9.13

A Câmara de Piracicaba e a "coação judicial" contra os cidadãos críticos


As imagens acima, notícias tiradas do site G1 de Piracicaba, dão uma dimensão do momento político que vive a cidade hoje. As notícias falam por si só, pois demonstram como a Câmara de Piracicaba não é acostumada com a participação popular, ou seja, atitudes como essas atuam para inibir a crítica e a liberdade de expressão. 

Desde que começaram as manifestações contra o vergonhoso aumento de 66% dos salários dos vereadores, que culminou na formação do grupo Reaja Piracicaba, até os atuais protestos contra a tarifa extremamente cara do transporte público, colocou em evidência aqueles que estavam acostumados a passarem despercebidos. 

A classe política de Piracicaba não tem nada de diferente das de outras regiões do Brasil. Muitos acham que o clientelismo, por exemplo, só existe nos rincões do país, mas se enganam, pois aqui é a mesma coisa. Teve até vereador por aqui que assumiu publicamente isso e ainda foi reeleito e beneficiado com o novo salário. 

Piracicaba vive uma letargia na política, onde sem oposição há pelo menos 10 anos, a cidade parece estar no "paraíso", onde não se vê contestações ao poder executivo e se há já é totalmente desarticulada pela maioria governista da Câmara. É do jogo político, mas Piracicaba chegou em um nível tão ruim nessa questão, que não só o legislativo, mas quase toda classe política é aliada. E isso não é bom para a democracia nem para a cidadania, pois sem fiscalização efetiva e inibindo a participação popular, dá margem para, principalmente na política, eles fazerem o que querem. E infelizmente é o que ocorre em Piracicaba com essa quase ausência, principalmente de oposição. 

Por isso, a maior parte das contestações e críticas a política da cidade, passaram a ser feitas pelos próprios (alguns) cidadãos através da internet e de espaços de opinião nos jornais da cidade. Eu me incluo nestes, pois sempre fiz isso nesses espaços, assim como faço aqui no meu blog, mas somos uma minoria que geralmente não tem medo de expressar a opinião, o que é garantido na constituição brasileira (Art. 5, inc. IX da Constituição Federal de 88). Infelizmente são as únicas vozes hoje que se levantam em Piracicaba e que agora estão tentando inibir através de uma espécie de "coação judicial". 

Aliás, só um parenteses na questão sobre a oposição política, há um novo vereador, Paulo Camolesi (PV), que começou a fazer oposição e tinha contato com os movimentos populares contra o aumento salarial dos vereadores. Agora está sofrendo não só críticas públicas do legislativo, mas também sanções (que mais parecem uma perseguição mesmo)como a demissão de seu chefe de gabinete, Antônio O. Storel, feita pelo presidente da casa, João Manoel (PTB), pois o assessor havia criticado as atitudes que a Câmara vem tomando em artigo de jornal. 

As atitudes tomadas por alguns vereadores e a Câmara em geral, como mostradas nas notícias acima, envergonham Piracicaba e seus cidadãos. Desde que colocaram vidros para separa-los totalmente da população durante as sessões plenárias, a Câmara demonstrou que a casa não é do povo, mas só deles e de seus assessores. Sem contar no caso que teve repercussão nacional, onde João Manoel (sempre ele!) mandou retirar a força um cidadão que não quis se levantar durante leitura de um trecho da bíblia. E pra piorar ainda tentou processa-lo com base em uma acusação ridícula e sem nexo, mas que foi arquivado.

Aliás, as notícias também mostram que dois vereadores se destacam nessas investidas contra os críticos: Laércio Trevisan (PR) e lógicamente ele, João Manoel (PTB).

O primeiro é o que se mostra mais exaltado, pois não perde a oportunidade em bater boca com manifestantes que vão a Câmara e na internet vasculha e faz uma espécie de patrulha contra aqueles que "ousam" dizer seu nome em vão. Foi o caso, por exemplo, da professora, que é minha prima por sinal, que o criticou no facebook de um amigo e ele assim que viu ameaçou tomar "medidas cabíveis" e ainda a citou publicamente na sua rede social. Dentre as "medidas cabíveis" ele procurou a secretaria de educação, pois a professora é contratada do município, e disse que fez representação contra a mesma. Isso é um claro atentado contra a liberdade de expressão e sugere também uma perseguição que visa coagir minha prima e manda um recado para que outros não façam o mesmo. 

Já o João Manoel ( que está "somente" há 7 mandatos na casa!), além dos dois episódios já citados o envolvendo, também tentou processar um cidadão, que o criticou em espaço de leitores do Jornal de Piracicaba, por "calúnia" e ainda usou advogado da Câmara, mas a ação felizmente foi extinta. 

Se não bastasse só essas notícias, hoje, 04/09/2013, o Jornal de Piracicaba (JP) publicou excelente matéria sobre as inúmeras ações judiciais que a maioria dos vereadores estão movendo contra cidadãos piracicabanos que cometeram o "crime" de critica-los tanto em jornais quanto na internet. A imagem abaixo mostra essa aberração política que Piracicaba vive hoje.
Fonte: JP
Observem que são 35 processos de vereadores, os quais a maioria é da base governista do prefeito Gabriel Ferrato (PSDB), contra cidadãos e que somam quase R$ 30 mil em indenizações! É o cúmulo do absurdo, pois ainda querem mais dinheiro do povo, mesmo depois de "ganharem" um aumento de 66% nos salários! Parece que além de a maioria das atividades da câmara ser só sobre "moção de aplauso" e "homenagens" agora estão usando o tempo, que seria pra fazer algo útil pra cidade, para processar críticos. 

Não consigo aceitar que um político, que sabe que tem poder e todo aparato jurídico a sua disposição, querer processar pessoas simples que se expressam comedidamente ou não. São figuras públicas e estão sujeitos a isso. Processar comentário de Facebook, por exemplo, é desproposital e ridículo. 

Muitos vereadores e membros da casa tentam justificar o injustificável ao dizer que a democracia permite isso, mas se esquecem da disparidade de poder entre eles e pessoas sem cargo político. Além disso, isso é imoral e essas atitudes são anti-democráticas e de cunho extremamente autoritário e ditatorial.

Agora parece que o ministério público (MP) irá investigar essa conduta vexatória da Câmara contra os críticos, mas qualquer um mais atento sabe que todos esses processos visam calar e inibir críticas e denúncias.A sociedade piracicabana deve repudiar essas atitudes autoritárias desses vereadores e se mobilizar contra isso. 


Agora espero que eu não seja o "36º processo" que esses edis vão mover contra mais um cidadão comum que tem o seu direito a livre expressão cerceado através dessa "coação judicial".

A todos os que estão sendo processados ou que virão a ser, é preciso lembrar que a constituição federal está do nosso lado e que o período de exceção já passou. A não ser que queiram revisitá-lo aqui em Piracicaba. 

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26.6.13

As manifestações do Brasil e Piracicaba e seus reflexos nas políticas públicas.

Alguns dias atrás escrevi no Jornal de Piracicaba (JP), como está destacado abaixo, sobre a imposição goela abaixo dos piracicabanos de uma das maiores tarifas de ônibus urbano do Brasil feita pelo prefeito Gabriel Ferrato (PSDB).
Agora, depois da pressão popular que houve no país todo, Ferrato resolveu voltar atrás e propôs a tarifa a R$ 2,80 no cartão TIP e R$ 3,00 a bordo. Continua caro, mas houve um avanço considerável por parte do movimento que encabeçou os protestos que foi o Pula-Catraca.
Na quinta-feira (20/06/13) passada houve uma enorme manifestação aqui em Piracicaba, onde o que prevaleceu foi a reivindicação da revogação da tarifa absurda de R$ 3,40. Embora muita gente foi por motivos diversos e até causas diferentes e antagônicas, a quantidade de pessoas surpreendeu até o fim do trajeto da passeata. Tinha também o pessoal do movimento Reaja Piracicaba que atingiu 20 mil assinaturas para projeto de lei que revoga o aumento vergonhoso de 66% nos salários dos vereadores de Piracicaba. Aliás, foi ridículo a atitude desses "nobres edis" ao cancelar a sessão desse dia com medo das manifestações e também para inibir o pessoal do Reaja de discursar. Essa câmara é uma vergonha para Piracicaba, pois os mesmos demonstram há muito tempo que não suportam a participação popular, tanto que colocaram vidros para separa-los do público dentro do próprio plenário. É ridículo a classe política tacanha que Piracicaba possui. Ainda sobre os protestos de quinta aqui em Piracicaba, pena foi no final, onde alguns pivetes se aproveitaram e promoveram um quebra-quebra em lojas perto do terminal central e as saquearam. Foram cenas tristes de se ver, mas que não tinham nenhuma relação com o movimento de redução das tarifas.

Já as recentes manifestações que sacudiram o Brasil nesses últimos dias tiveram como aspecto positivo mobilizar pessoas que nunca foram para as ruas ou que não eram simpáticas a protestos e conseguiu fazer todas as esferas de governo do país a finalmente ouvi-los em alguns pontos. O principal, por enquanto, foi a redução das tarifas de transporte público no país, que aqui em Piracicaba veio tardiamente e ainda é pouco. Parte do povo pode ter “acordado”, mas ainda é algo que é demonstrado de maneira difusa nas manifestações. Integrantes de movimentos sociais e de algumas classes de trabalhadores sempre estiveram acordados reivindicando melhorias e mudanças pontuais e estruturais no país. A violência policial foi finalmente destacada na imprensa, a qual oportunisticamente passou a apoiar os protestos depois de criminaliza-los no início, como sempre fez em relação a manifestações populares. Os interesses da grande imprensa brasileira nessa mudança também tem certa manobra política para jogar o jogo político das eleições do ano que vem. O aspecto negativo foi que fascistas e golpistas saíram do armário pra tentar carona nos protestos. Inclusive na seção de cartas do JP, teve um exemplo emblemático desse tipo, onde o cidadão diz que a solução é acabar com partidos, principalmente o que está no governo federal, e ainda clama pelo golpe das forças armadas para tomar o poder. 

É de dar nojo ler uma coisa dessas! Típico discurso estúpido e ignorante de reacionários que vivem em uma eterna paranoia e que quando saem as ruas são perigosos ao insuflar o confronto sectário. Aliás, em São Paulo, houve agressões e perseguições aos militantes de esquerda onde houve até queima de bandeira de partido por parte dos fascistas. É algo que muitos minimizam mas infelizmente pode virar algo maior e pior. 

Por isso, as manifestações que ocorreram e ainda ocorrem pelo Brasil precisam ser bem analisadas para não cair na cilada midiática de querer manipular para fins políticos/eleitorais. Também é bom observar que agora que muitos protestos estão saindo da periferia das cidades para o centro, o enfoque dessa mesma mídia já começou a mudar também, onde o trânsito voltou a ser a prioridade nas reportagens.

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11.4.13

O "busão" à R$ 3,00 e R$ 3,40 e o piracicabano cada vez mais ferrad(T)o!!

Fonte da foto: Jornal de Piracicaba (JP)
A defesa da tarifa abusiva de R$ 3,40 pelo ex-secretário de transporte de Piracicaba, o qual ainda desdenhou das manifestações populares contra o reajuste, demonstra que o atual governo não voltará atrás da medida. E para isso conta com a maioria na Câmara, os quais vergonhosamente já rejeitaram audiência pública sobre o assunto. Com isso fica cada vez mais evidente como muitos dos edis não gostam da participação popular, a não ser quando é de militante do partido governante (PSDB) que até nos jornais tenta defender o indefensável ou de jornalista chapa-branca e puxa-saco que destila o ódio sectário e partidário contra aqueles que contestam seus chefes.
O ex-secretário citou a área total de Piracicaba, que segundo o IBGE é de  1.378,501 km2, dando a impressão de que todo esse perímetro é coberto pelas linhas de ônibus. Mas o perímetro urbano, onde roda a maior parte da frota, é bem menor que isso, pois segundo a Wikipédia é de 31,5733 km².
O prefeito Gabriel Ferrato (PSDB) se reuniu com alguns representantes do movimento "Pula-Catraca" só para fazer pose de democrático, mas não cedeu em nada. Ele diz que o movimento passou dos limites e que é político e não técnico, mas todo movimento popular é político. É a política que passou dos limites e deixou o preço chegar nesse absurdo e fez o transporte público ser relegado das prioridades das políticas públicas da cidade. Isso que é praticamente o mesmo governo que está no terceiro mandato!
Até agora o tal "estudo" sobre as tarifas encomendado a USP não foi divulgado. Mas, quem é que está fazendo o tal "estudo" realmente?
O prefeito tem que entender que o problema da alta do transporte público não é somente técnico e político, mas também social. O preço dessa nova tarifa pesa muito no salário dos trabalhadores. Logicamente que Ferrato, seus secretários milionários e os abastados vereadores não sabem o que é isso. Por parte da sociedade piracicabana, há aqueles que não estão nem ai também, pois nunca sequer usaram o transporte público da cidade e por isso Ferrato e cia. os representa. Mas não representa a maioria que tem que usar o ônibus ruim, mal conservado, com horários esdrúxulos e mal feitos e muito caro. 
A adesão aos protestos comandados pelo "pula-catraca" está tendo uma boa participação de estudantes, o que denota uma politização que é salutar para a democracia na cidade. Agora, principalmente depois dessa reunião, a prefeitura começará a "engrossar" contra o movimento e pode até apelar para a repressão. Aliás, a coerção já começou, pois a prefeitura fez banners e cartazes para orientar a população a não pular a catraca em tom até ameaçador e colocou a polícia para barrar os manifestantes na sexta-feira (05/04/2013).
Cartaz coercitivo contra a população
Fonte da foto: JP
Ato proibido no dia 05/04/13
Fonte da foto: JP
É por isso que boa parte dos usuários de ônibus não toma partido e não se junta aos protestos. A maioria é contra o aumento e concorda com as reivindicações dos manifestantes, mas tem medo de protestar. Isso vem da cultura violenta de repressão a movimentos populares que se intensificou no Brasil no período da ditadura militar e que perdura até hoje. E a prefeitura ainda destaca no cartaz que é crime pular a catraca, inibindo mais ainda a participação do cidadão.
No Brasil, o povo (geralmente os pobres) que depende de serviços públicos essenciais como o transporte público tem que fazer manifestações e muito barulho para ser ouvido e chamar atenção para o problema. Já os ricos e poderosos não precisam disso, pois já possuem influência direta sobre a classe política e tem os grandes meios de comunicação como seus porta-vozes. 
Aqui em Piracicaba não é diferente, mas felizmente está mudando e muitas pessoas estão perdendo esse medo de se expressar. Acredito que depois de quase 8 anos de letargia sob o "barjismo" a população começou a enxergar que a cidade não é aquele paraíso propagandeado através das "obras" de trânsito, os quais são direcionados para o transporte individual. O movimento Reaja Piracicaba teve um papel importante nisso e agora está havendo mais manifestações reivindicatórias na cidade. O "pula-catraca" é só mais um e espero que não pare por ai. 
Juventude se politizando e se manifestando em Piracicaba!
Fonte da foto: JP

Enterro simbólico do prefeito Gabriel Ferrato
Fonte da foto: JP




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25.3.13

Uma tragédia na educação e mais um engodo do governo estadual paulista


A assessoria do governo do estado de São Paulo respondeu uma carta crítica de um professor de filosofia que saiu no Jornal de Piracicaba (JP), sobre o fim do ensino das disciplinas de história, geografia e ciências nos anos iniciais do ensino fundamental de escolas de tempo integral. O governo tergiversou sobre o assunto e disse que o foco nesses anos é com a alfabetização e que essas disciplinas serão "aprofundadas" em oficinas. Eu já trabalhei em escola de tempo integral estadual e é simplesmente uma escola sem estrutura que deixa os alunos 8 horas por lá com os professores tendo que se virar com o que podem. Essas escolas teriam que ter reformas estruturais que acolham os estudantes o dia todo como por exemplo, banheiros com vestiários e bastante material de apoio. Só que isso não ocorre, pois a verba geralmente é escassa e a escola fica sob a própria sorte mesmo. Supervisores de ensino geralmente só vão lá para cobrar e nada mais, pois não sabem, ou se esqueceram, qual é a realidade de uma sala de aula. 

Política Salarial? Reajuste?

Agora,com relação à resposta do governo estadual paulista sobre a tal Política Salarial para a Educação é preciso fazer algumas considerações. Como sempre, o governo tenta ludibriar os leitores mais incautos quando diz que há um “aumento” escalonado de 42,25% em 4 anos no vencimento base dos professores. O que não diz é que nele está incluída a incorporação das gratificações que somam R$ 92. Com isso, o percentual do reajuste é de 35,5%. Também não leva em consideração a inflação, que segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias do Estado, somará 22% até 2014. Portanto haverá um “aumento” real de 13% que recupera somente cerca de um terço das perdas salariais dos professores desde 1998. Mesmo assim é um reajuste pífio por ser o estado mais rico da nação. O final da carta da assessoria do governo parece piada, pois diz que quer tornar mais atrativa a carreira de professor no estado. Quem está na rede ensino sabe que isso é ridículo, pois está diminuindo o número de professores. Esta diminuição está ligada as iniciativas arbitrárias deste governo em ter separado os professores temporários em categorias e ter lhes retirado direitos. Os docentes da categoria O, que em geral são os que estão começando, são os mais prejudicados, pois vivem sob coação de perder as aulas e ter que ficar 200 dias sem lecionar. Pior é que agora os recém-contratados tem pagar pra fazer exames médicos, que antes era o próprio estado que fazia, para ingressar na rede. Assim que a secretaria da educação quer atrair os melhores profissionais? 

Violência e Tragédia

A violência que não só professores, mas muitos diretores, coordenadores e funcionários sofrem, também é pouco divulgado e minimizado pelo governo. Na segunda-feira (11/03/2013), uma professora (que é a da foto abaixo) da rede estadual de Itirapina (aqui perto de Piracicaba mesmo) foi morta dentro da escola a facadas por um aluno do supletivo. O motivo para o assassinato dessa colega de profissão não foi divulgado ainda. Isso era para ser um escândalo nacional e suscitar uma discussão ampla sobre a violência de alunos contra os profissionais da educação no país. A secretaria da educação soltou uma nota lamentando o incidente e só. Agora, cade a grande imprensa para escandalizar algo que realmente é uma tragédia ? Cadê o governador Geraldo Alckmin, o qual deveria vir a público para não só lamentar o fato, mas de exigir providências? Nessa questão entra um pouco a questão político-partidária da grande imprensa brasileira, principalmente a paulista, a qual é favorável ao governo tucano e por isso não o critica e nem o fustiga sobre um tema que é tão falado em época de eleição. 

Há 18 anos no poder, o PSDB paulista ainda não entendeu a real situação da educação no estado de São Paulo, principalmente dos professores. Assim continua com uma política de desvalorização e precarização da profissão que é essencial para o desenvolvimento do país. A todos os níveis de governo esse tema tem que ser cobrado sempre e mais ainda exigir providências dos mesmos em relação a episódios graves de violência no ambiente escolar, como o da professora de Itirapina.


Termino esse texto com meus sinceros sentimentos em relação a colega de profissão, a professora Simone Lima, que perdeu a vida injustamente. Uma tragédia sem precedentes não só para amigos e familiares dela, mas para toda a nação brasileira.

OBS: abaixo está a minha carta, publicada no JP, respondendo a assessoria do governo do estado paulista sobre os salários dos professores.


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24.1.13

A relação eterna "Casa Grande e Senzala" no Brasil

Esses dias fui a uma formatura dos cursos da Esalq-USP aqui de Piracicaba. Uma grande festa com muita comida, bebida e atrações variadas para um público de cerca de 5 mil pessoas. Até ai é normal e todo ano é assim, só que eu observei algo que em geral passa despercebido que é a presença quase nula de pessoas negras entre os quase 250 formandos do campus. Eu não vi nenhum, pelo menos que pagou caro pela formatura, quando entrava para a famosa valsa dos formandos e nos telões que passavam os nomes e fotos dos mesmos. Entre o público presente convidado, vi apenas alguns que dava para contar nos dedos das mãos entre, como já citei, as quase 5 mil pessoas ali presentes.
Ali a estatística era fácil de fazer com a simples observação. Entre os formandos: 100% brancos. Entre os convidados: 99% brancos. Entre os empregados do salão: 98% de pardos e negros (pegando a nomenclatura usada para determinação de cor). Essa estatística feita meio por cima na hora do baile de formatura de uma universidade pública no Brasil demonstra que na questão do ensino superior público ainda o número de vagas preenchidas é totalmente favorável aos brancos e ricos do país. Ainda que tenha aumentado o número de estudantes negros em algumas universidades públicas por meio de cotas, ainda os vejo mais nas universidades particulares. E o ProUni também teve um efeito para que isso aumentasse, mas ainda é pouco.
Quando faço esse tipo de observação, me convenço ainda mais sobre a necessidade das cotas nas universidades públicas. Os que são contra as cotas "argumentando" cinicamente e estupidamente que as mesmas são uma forma de racismo, não sabem o que dizem. Querem ignorar essa realidade que todos vêem, mas fingem não existir por simplesmente achar normal.
O sentimento em relação aos pobres, principalmente quando são negros ou pardos, da maioria da classe média e alta ainda é do tipo Casa Grande e Senzala. A internet é onde isso fica bem evidente tanto em comentários quanto em textos que parecem que foram escritos por senhores donos de escravos do começo do século XIX.
A colunista da Folha de S.Paulo, Danuza Leão, famosa por outras asneiras escritas sempre com cunho racista e preconceituoso escreveu mais uma pérola elitista que atesta como pensa a maior parte dessa mesma elite do país. Quem quiser, tape o nariz e leia o texto "Ser especial" dessa senhora. Ela simplesmente diz que não se sente mais especial porque não vê graça em ir a Paris sendo que o porteiro do seu prédio, hoje em dia, pode parcelar uma viagem que antes só ela fazia. Para ela e muitos por ai, ver aqueles que antes só os enxergavam quando estavam limpando o chão, atendendo portas, cuidando dos seus filhos e limpando suas casas, nos aeroportos hoje em dia é o fim do mundo. Daí também o sentimento que já era odioso em relação ao ex-presidente Lula ser ainda maior, pois nos seus dois mandatos isso aumentou vertiginosamente com o crescimento da renda no país.
Pra quem quiser mais tem ainda o texto de uma dondoca, que há muitas por ai igualzinha a esta, que escreveu também essa peça de museu escravista. Leiam aqui a cópia do texto dela que se chama "Viajando com babás". Ela, na maior bondade do mundo, dá dicas de como levar babás em viagens com a família, pois pais cheios de dinheiro não tem tempo nem em viagens para cuidar dos próprios filhos, e ensina as amigas dondocas a trata-las............ como se fossem cachorros. Por exemplo, para não levar a empregada (como se fosse posse mesmo) em restaurante chique, porque "pega mal", então eles a levam antes em um McDonalds que a mesma fica feliz e agradece de coração a viagem que a patroa proporcionou a ela. Uma crítica muito boa sobre o que escreveu a dondoca é esse texto "Babás e empregadas domésticas: relações que perpetuam o racismo e machismo".
Ainda nessa questão, é um absurdo ver que muitas pessoas que tem empregadas domésticas e babás prestando o serviço, obrigarem-nas a usarem um uniforme típico. Se pegar uma foto da época da escravidão onde mostra a relação Casa Grande e Senzala verá que não mudou nada nessa questão. Sem contar que em alguns clubes de ricos em São Paulo, não permitem a entrada de babás sem uniforme e ainda as separam dos sócios! Outro texto bom sobre o assunto é "Uma babá sem uniforme. .." do Leonardo Sakamoto.
A segregação ainda viceja em nosso meio e não percebemos, pois só aqui há elevadores de "serviço" e quarto de empregada!Aliás, esse quarto está sendo exportado para empreendimentos imobiliários fora do Brasil, ou seja, algo tipicamente brasileiro e triste.
E agora a moda é reclamar da falta de diaristas e empregadas domésticas, pois onde já se viu elas pleiteando direitos, né? E agora, depois de 8 anos mais 2 de um governo comunista, deu a elas os mesmos direitos que todo trabalhador tem há anos? Assim pensa e exclama a Casa Grande no Brasil, a qual tem na mídia hegemônica seus porta-vozes, como Danuza Leão, por exemplo, e também pseudos-humoristas, como Danilo Gentili, que agora podem ser abertamente racistas e preconceituosos se auto-intitulando como "politicamente incorretos".
Portanto, o racismo no nosso país ainda persiste com esse tipo de relação submissa entre patrões e empregados, na disparidade de escolaridade entre brancos e negros e também no preconceito típico de ver como ruim a ascensão dos que antes nunca frequentaram alguns lugares que só você era "especial" o bastante para estar lá.


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