11.6.10

Serra e sua hipocrisia sobre as drogas

O candidato tucano José Serra agora esta tentando já causar incidentes diplomáticos desnecessários com a acusação estapafúrdia de que o governo boliviano é conivente com o tráfico de drogas. A sorte dele é que a grande imprensa brasileira, ou melhor, o PIG esta trabalhando a todo vapor na sua campanha eleitoral. Para isso, além das costumeiras manipulações e ausências de críticas ao candidato tucano, eles se especializaram em tentar reverberar ao máximo as suas declarações para manter na pauta do dia. Foi só ele acusar o governo da Bolívia - que é governado pelo segundo presidente mais odiado pelo PIG , o Evo Morales – que já o apoiaram e começaram ilações delirantes sobre isso. O pior é que Serra elogiou a Colômbia no combate as drogas, mostrando que o candidato está disposto a organizar uma frente de direita e novamente subserviente aos EUA no continente. O ex-desgovernador de São Paulo se esquece que mais de 80% da cocaína consumida no mundo vêm da Colômbia e que a parceria com os EUA para combater as drogas não teve nenhuma eficácia. Aliás, o Plano Colômbia é cortina de fumaça para interesses maiores dos EUA que estão se concretizando ao implantar de vez bases militares no país. Usam a justificativa mentirosa de que irão combater o narcotráfico e as guerrilhas, mas isso não ocorreu depois de bilhões de dólares despejados esses anos com o fracassado Plano Colômbia. A política de war on drugs que vem desde o presidente Reagan é uma política de intervenção interna e política nos países associados. O presidente colombiano, Álvaro Uribe, tem ligações antigas com os paramilitares e narcotraficantes, inclusive foi revelado que o irmão dele esta envolvido até hoje com isso. Vale lembrar que boa parte da base de governo de Uribe é ligada ao narcotráfico internacional e que não é só as Farc que atuam nesse ramo. E o PIG faz vista grossa pra isso e tenta jogar a pecha de traficante a Evo Morales, devido a ele ser considerado cocalero, que é tradicional na Bolívia.
José Serra é hipócrita e a imprensa mais sem-vergonha ainda em não mostrar que aqui no estado de São Paulo o tráfico de drogas está ligado pela corrupção dos departamentos policiais paulistas. Alguém se lembra do milionário traficante colombiano Abadia preso pela polícia federal? Ele revelou parte dessa corrupção com o Denarc e mostra como que Serra e seu partido não levam a sério esse tema. Faz 16 anos que estão no poder no estado e agora vem falar até de criar um tal “ministério da segurança”? Muita cara de pau desses tucanos, pois além de tudo são incompetentes como na vez que anunciaram o fim do PCC e pouco depois o grupo criminoso perpetrou terror no estado todo. O telhado dos tucanos no estado já está quebrado faz tempo e estão tendo que procurar outros temas para o PIG transformar em novos factóides e fazer a pauta do dia pra eles.
Abaixo reproduzo um vídeo sobre a incoerência da propaganda enganosa e mentirosa de José Serra.


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6.6.10

Em Israel, o assassinato de ativistas é motivo de piada

Após o ataque terrorista do governo fascista-sionista de Israel contra a flotilha de ativistas, a guerra de informações e contra-informações começou. A começar pelo número de ativistas assassinados, pois Israel diz que foram 9 e os ativistas dizem que foi pelo menos o dobro disso. O governo israelense tentou manipular a opinião pública mundial divulgando imagens de alguns ativistas recebendo os soldados israelenses com bastões de ferro e até facas. Ora, como esperavam que fossem recebidos soldados fortemente armados que estavam invadindo os barcos, sendo que estes estavam ainda em águas internacionais? Com abraços e flores? Na verdade a atitude dos ativistas foi de reação, mas não se compara bastões e algumas facas com metralhadoras de última geração. Não se pode, com base nisso, dizer que a flotilha estava “armada” e assassinar dezenas de pessoas e ainda tacha-los de terroristas.
Pois bem, o episódio trágico rendeu críticas inéditas da imprensa israelense, a qual geralmente apóia o governo nas ações militares. Mas nem toda mídia israelense aderiu a isso lógicamente, mas alguns extrapolaram e satirizaram o episódio. É o caso do site de humor israelense Latma TV, o mesmo que fez outro vídeo tirando sarro do presidente Lula sobre o acordo nuclear com o Irã. O vídeo pode ser visto abaixo e mostra para aqueles que acharam que o Lula “pagou mico” em Israel, a verdadeira face truculenta, autoritária e desrespeitosa dos tais “humoristas”.



O video ainda foi despachado pelo próprio gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para uma lista de jornalistas. Mais tarde, foi revelado pelo jornal norte-americano The New York Times que o site é comandado por Caroline Glick. Ela já foi consultora do premiê Netanyahu e serviu por 5 anos nas forças de defesa de Israel, ou seja, é um site para reverberar e apoiar estritamente todas as ações do governo israelense através de um humor preconceituoso e racista. É quase que um humor oficial, pois no vídeo eles mostram as tais imagens que o governo israelense tentou justificar o injustificável.
Vale lembrar que dentre os ativistas pelo fim do bloqueio a Gaza há personalidades como a ganhadora do prêmio Nobel da Paz , Mairead Maguire e a ativista judia, Hedy Epstein. A primeira estava no navio irlandês chamado Rachel Corrie, que não pôde acompanhar a flotilha atacada por problemas mecânicos. O nome desse navio é em homenagem a norte-americana Rachel Corrie, de 23 anos, que foi morta em 2003 em Gaza ao tentar impedir uma escavadeira israelense de destruir a casa de uma palestina.
Já a ativista judia, tem 85 anos e fugiu da Alemanha Nazista, mas seus pais morreram em Auschwitz. Ela é a favor da causa palestina e pretende embarcar em outro barco para tentar chegar a Gaza. A entrevista dela à BBC Brasil pode ser conferida aqui.
Desde o começo da implantação do estado de Israel, o sionismo foi bom para os judeus, mas péssimo para os palestinos. Milhares de palestinos foram expulsos, perseguidos e assassinados pelas forças sionistas, o que ajudou a intensificar o ódio dos palestinos contra Israel. Uma análise mais profunda sobre essa questão, sugiro o texto do meu amigo, professor de relações internacionais da Facamp, Thomas de Toledo, que pode ser lido aqui.
Enfim, o mundo todo sabe que o bloqueio imposto à Gaza por Israel é criminoso e não visa enfraquecer o Hamas, mas sim punir coletivamente 1,5 milhão de palestinos confinados naquele território. Isso fortalece mais ainda o Hamas, pois a população de Gaza vai apoiar aqueles que de uma forma ou de outra oferece mais resistência as investidas violentas israelenses. O mundo precisa ver que esse bloqueio é a implantação de vez de um apartheid palestino. Sobre isso, reproduzo abaixo o texto do jornalista Renato Rovai sobre as semelhanças entre a situação de Gaza e o apartheid sul-africano.
“Palestinos de hoje são os negros sul-africanos de ontem

Ao assitir agora há pouco na Globonews o primeiro ministro de Israel Benjamin Netanyahu visitando militares supostamente feridos no ataque que realizaram à flotilha humanitária, recordei-me de Peter Botha, um dos maiores assassinos do regime do apartheid.
E passei a ter mais certeza de que a ação de Israel contra a flotilha de ação humanitária em águas internacionais não está recebendo reação proporcional ao tamanho do crime cometido. Principalmente pelo governo dos EUA e pelos principais governos da comunidade européia.
Não é hora de pedir investigação. É o momento de impor duras sanções a Israel pelos crimes de lesa humanidade que tem praticado.
O que Israel tem feito contra palestinos muito se assemelha ao apartheid na África do Sul. No país sede da Copa também havia controle de entrada e saída de negros nos territórios ocupados por brancos. Da mesma forma que acontece hoje na Faixa de Gaza e nos territórios palestinos. Onde milhares de pessoas ficam confinadas e não podem sair mesmo necessitando de socorro médico. O que motivou a flotilha de ação humanitária.
O governo de Israel, aliás, utiliza método muito semelhante ao dos racistas do apartheid também em relação à divisão do território. Israel permite aos palestinos viver em algo como os bantustões. Na África do Sul os bantustões não tinham relação um com outro, eram ilhotas. Como também o são os territórios palestinos.

É importante registrar que para que o apartheid terminasse foi importantíssima a condenação de toda a comunidade internacional ao regime racista. Mais do que isso, foi fundamental que essa condenação resultasse em um bloqueio comercial em que até investidores foram constrangidos a não aportar recursos em empresas da África do Sul ou em companhias que fizessem negócios com aquele governo.
Também não é demais lembrar que até a restrição a participação de equipes esportivas da África do Sul em competições internacionais contribuiu para o fim do apartheid.
No momento em que todos os olhares do mundo se dirigem à África do Sul por conta da Copa do Mundo é o momento de lembrar que os palestinos de hoje são os negros que viveram de 1948 a 1994 no país de Mandela.
E que as medidas contra o goveno Israel precisam ser da dimensão das que foram contra Peter Botha e outros gangsters do apartheid.”


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2.6.10

Israel é um estado terrorista


O Governo de Israel mais uma vez mostra ao mundo que sua política de aniquilamento da população palestina de Gaza vai ser feita a qualquer custo. Já custaram e ainda custarão milhares de vidas inocentes e para isso não pouparão ninguém. O recente episódio em que as forças armadas israelenses atacaram e mataram 9 pessoas que eram ativistas levando ajuda humanitária aos palestinos de Gaza, exemplifica isso. As embarcações estavam em águas internacionais e mesmo assim foram atacadas pelos israelenses. O governo de Israel tentou argumentar e enganar a opinião pública dizendo que o grupo de ativistas atacou os soldados, o que não é verdade. Mostraram imagens onde depois que os soldados invadem os barcos, eles são rechaçados pelos ocupantes da frota com bastões e a força física. Mas isso é uma reação que não permite eles atirarem para matar indiscriminadamente como ocorreu. Nada justifica esses assassinatos, pois não era uma frota militar nem terrorista e não possuíam nenhum tipo de armas. Estavam levando toneladas de suprimentos e materiais para os palestinos que estão há quase 3 anos cercados por Israel e Egito. No áudio abaixo, reproduzo entrevista da ativista e cineasta brasileira Iara Lee que estava a bordo do navio quando foi atacado. Ela diz que eles queriam que ela assinasse um documento dizendo que ela era terrorista para poder liberá-la. Ouçam:

Em 2007 Israel atacou Gaza indiscriminadamente e matou centenas de civis palestinos e chegaram a bombardear até hospitais. Nessa empreitada sangrenta, a entrada de ajuda médica internacional as vítimas eram impedidas e não foi permitida a entrada da imprensa internacional nos territórios palestinos, o que ficou evidente que não queriam que a carnificina fosse mostrada ao mundo. Mesmo assim, o episódio causou repúdio internacional e houve condenações de diversos países como a Inglaterra e Brasil e também a ONU. Israel simplesmente ignorou tudo isso e impôs um bloqueio a toda a população de Gaza, o que configura como punição coletiva. Gaza virou quase que um campo de concentração, onde Israel controla tudo o que entra e sai e só permite que 20% de toda a ajuda enviada possam entrar lá. O país sionista tentou justificar essas medidas para punir o grupo político que venceu as eleições palestinas, o Hamas. O governo israelense não dialoga com o grupo, pois diz que eles não reconhecem o estado judeu, mas ao mesmo tempo não deixam os palestinos terem um estado para eles. Aliás, se depender do atual governo de Israel, que é de extrema-direita, os palestinos nunca terão direito a um estado nacional. O primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, e seu ministro de relações exteriores, Avigdor Lieberman, são verdadeiros extremistas judeus que são adeptos do projeto chamado “Grande Israel”. Esse projeto consiste na expulsão de todos os árabes e palestinos de Israel, Faixa de Gaza e Cisjordânia, anexando de vez esses dois últimos territórios onde só irá morar judeu. É um projeto racista mesmo e está sendo implementado aos poucos com as construções ilegais de assentamentos em territórios palestinos e com o muro, também ilegal, asfixiando os palestinos tanto da Cisjordânia quanto de Gaza. Esse muro é uma vergonha para o mundo, pois segrega os palestinos e rouba as terras destes criando de vez um apartheid em pleno século XXI. Ano passado comemorou-se a queda do muro de Berlim, mas se esquecem, ou melhor, fecham os olhos para o muro da vergonha israelense que está sendo erguido.
Essa ação dos ativistas das flotilhas trouxe a tona o que o bloqueio israelense à Gaza causa na vida dos palestinos. Antes desse bloqueio a vida dos palestinos já era difícil e ficou pior. Para quase todo habitante de Israel e principalmente o seu governo, todos os palestinos são terroristas até que provem o contrário. Isso faz com que a hostilidade dos dois lados só aumente, mas o lado mais forte - que é o de Israel - acaba impondo e oprimindo o outro lado. Israel pratica há muito tempo diversos crimes de guerra, crimes contra a humanidade e desrespeita os direitos humanos nos territórios palestinos. Ações que viraram cotidiano na vida da maioria dos palestinos incluem:
- prisões sem acusações formais, as quais são levadas e presas até crianças;
- destruição de casas de supostos parentes de militantes que cometem atos terroristas ou que Israel simplesmente acusa que é terrorista;
- é imposto toque de recolher a qualquer hora, sob penalização de prisão e morte aos que tiverem fora de suas casas;
- fechamento de escolas e universidades ao "bel-prazer" dos israelenses;
- fornecimento de água tratada é sempre cortado;
- humilhação nos postos de controle israelenses, os quais são monitorados por jovens militares que decidem se deixam ou não os palestinos entrarem ou passarem de acordo com o humor deles;
Ou seja, é quase uma ditadura imposta por Israel aos palestinos,agora pior na faixa de Gaza. Infelizmente quem é o entrave as tentativas de acordos de paz na região é Israel, pois eles assassinaram o primeiro-ministro Itzhak Rabin e sepultaram o acordo de Camp David, o qual seria o único caminho para uma solução na região. De lá para cá, os eleitores de Israel foram elegendo candidatos cada vez mais a direita e racistas, tanto que chegou ao que se tem hoje, o governo mais terrorista que o país já teve.
O aliado incondicional, EUA, sempre relativiza e apóia as ações truculentas e terroristas de Israel, pois o país é estratégico na região. Com isso tentam impor ao mundo uma versão falsa e mentirosa dos fatos. Invertem o jogo geo-político a favor deles e posam de vítimas. Quem os critica já é tachado de anti-semita, anti-americano e terrorista, pois para estes criticar as ações de seus governos é criticar toda a população de seus países. Boa parte da imprensa internacional, inclusive a brasileira, compra essa mentira e desvia o foco dos reais problemas e interesses na região.
Gostaria de ver a reação dos EUA e dos que apóiam Israel se o assassinato dos ativistas tivesse sido feito pelo Irã. Com certeza os EUA, Israel e União Européia iriam imediatamente condenar as ações e aprovar de imediato sanções contra o país e não fazer como estão fazendo agora, pedindo calma e investigações. Israel merece punições mais duras e eficazes da comunidade internacional e a atitude do governo brasileiro é correta em repudiar mais um ato terrorista de Israel.
Quem tem senso de humanidade e solidariedade com os verdadeiros oprimidos não fica do lado de Israel, mas sim dos palestinos e dos judeus e israelenses, mesmo que estes sejam poucos, que lutam pela paz.
Abaixo termino com alguns vídeos que mostram a real situação palestina e o terror israelense contra eles.










E para quem quer assistir a um documentário completo sobre a causa Palestina, assita "Occupation 101" que pode ser visto aqui.
OBS: As charges são do excelente cartunista Latuff

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1.6.10

Oliver Stone e o outro lado de Hugo Chávez


Em 2009, o cineasta norte-americano Oliver Stone lançou um documentário chamado “South of the Border” e gerou polêmica nos EUA. Este documentário mostra os presidentes latino-americanos que ascenderam ao poder democraticamente e que estão fora daquela velha zona de influência dos EUA, como foram todas as ditaduras na região. O documentário mostra que esses líderes são humanos e estão no poder democraticamente, pois foram eleitos e reeleitos demonstrando a aprovação da maioria sobre seus governos. O documentário desfaz mitos perpetrados pela mídia norte-americana que passou a demonizar Hugo Chávez, o que foi seguido pelo resto da grande imprensa latino-americana, principalmente o PIG. O trabalho do cineasta compara e mostra a manipulação grotesca feita pela imprensa norte-americana em torno da maioria desses líderes, principalmente Chávez.
O ator Sean Penn já havia feito algo semelhante em 2008, quando foi pessoalmente a Venezuela e Cuba para ver o que realmente acontece nesses países. Ele também entrevistou Chávez e Raúl Castro e teve uma outra percepção da realidade que estes países vivem com a interferência constante dos EUA em seus assuntos internos. No final da entrevista ele escreveu:

“a maior parte das questões básicas sobre soberania nos permitem entender o antagonismo norte-americano contra Cuba e Venezuela, assim como contra as políticas desses países. Eles sempre tiveram só duas escolhas: serem imperfeitamente nossos ou imperfeitamente deles mesmos”

Essas conversas foram escritas em artigos para a revista The Nation, os quais foram traduzidas pela Agência Carta Maior aqui.
Antes de reproduzir a entrevista que Stone deu para o jornal Folha de S.Paulo, destaco esse trecho:

“O presidente Hugo Chávez tenta controlar a mídia na Venezuela…
[Interrompendo] Não mesmo. 80% da mídia na Venezuela é privada, dirigida por ricos que falam mal do governo. Chávez brigou pela liberdade de expressão. Alguns canais e revistas convocaram greves e chamaram as pessoas para um golpe de Estado em 2002. Em meu país, se você fizer isso, sua licença [de TV] será retirada.”

É o que eu sempre disse, se uma rede de TV nos EUA fizesse o que fez a RCTV na Venezuela, a licença não seria só retirada, mas a emissora seria bombardeada pelo governo Bush na época. Confiram a entrevista do cineasta, a qual foi retirada do Blog Cidadania do Eduardo Guimarães.

FOLHA DE SÃO PAULO – 27/05/2010

OLIVER STONE DIZ QUE LULA NÃO DEVE CONFIAR EM ELOGIOS DE OBAMA
O cineasta americano Oliver Stone (“Platoon”, “JFK”, entre outros) chega ao Brasil na segunda, 31, para lançar “Ao Sul da Fronteira”, documentário sobre sete presidentes da América Latina – com destaque para o venezuelano Hugo Chávez, de quem é admirador. Por telefone, de seu escritório, em Los Angeles, Stone falou à coluna:
Folha – Como é Chávez?
Oliver Stone – Ele é muito acolhedor e amoroso. As notícias sobre ele nos EUA têm sido muito negativas, porque ele mudou as regras. Fez coisas que nenhum outro, exceto Fidel] Castro, havia feito. Ele tem feito coisas novas, assim como Nestor Kirchner na Argentina e Lula no Brasil. Como Cristina Kierchner diz no filme, as pessoas que estão no poder na América do Sul têm o semblante do povo que as elegeu. Hugo Chávez é um soldado e obviamente tem algumas das faolhas de um soldado. Lula é um sindicalista e tem algumas das falhas de um sindicalista. Mas ambos representam uma grande mudança. E eu espero que dê certo. Porque é o desejo de controlar o seu próprio destino, de ser levado a sério, de não ser ignorado.
O filme é pró-Chávez?
Não é pró-Chávez. Apenas mostra honestamente o que ele está fazendo e o que estão dizendo sobre ele. Não é um documentário longo que vai defender tudo, é uma “roadtrip”. Se fosse pró-Chávez, ele teria três horas a mais.
O presidente Hugo Chávez tenta controlar a mídia na Venezuela…
[Interrompendo] Não mesmo. 80% da mídia na Venezuela é privada, dirigida por ricos que falam mal do governo. Chávez brigou pela liberdade de expressão. Alguns canais e revistas convocaram greves e chamaram as pessoas para um golpe de Estado em 2002. Em meu país, se você fizer isso, sua licença [de TV] será retirada.
Há relatos de jornalistas sobre a pressão do governo.
Estou falando do que vi e ouvi. O governo respeita a liberdade de imprensa, exceto nos casos em que a mídia desrespeita a lei ou tenta um golpe. Aí as licenças das empresas de comunicação não são renovadas. A maioria das TVs do país é dirigida por lunáticos, caras de direita que perderam seu poder quando Chávez nacionalizou o petróleo. É uma das imprensas mais histéricas que já vi.
O sr. desaprova algo no governo de Chávez?
Ele comete erros assim como qualquer outro governo do mundo. Mas 75% votaram nele em 2006. Nos EUA, a votação de Obama não chegou nem perto. Você não tem ideia de quão pobre era a Venezuela antes de Chávez. Parte por causa do neoliberalismo praticado, inclusive, no seu país, o Brasil. Washington e o FMI não têm interesse, de coração, nas pessoas. Chávez, Lula, Kirchner, [o boliviano Evo] Morales têm. E pagam o preço sendo criticados por pessoas que têm dinheiro e controlam a mídia.
No filme, Lula diz que só quer ser tratado com igualdade. Ele está sendo?
Por quem?
Por líderes do mundo.
Não. Ele e os outros líderes da América do Sul ainda são ignorados. Eu admiro muito o Lula. Ele fez uma coisa nobre indo ao Irã. Ele está tentando manter a sanidade, manter suas posições. Os americanos e europeus acreditam que podem controlar o mundo. Lula representa uma terceira via, de quem não quer a guerra, um caminho fora dessa loucura. Os EUA costumam dizer que Chávez é a má esquerda e Lula, a boa. Isso é nonsense. Obama apoiou Lula até quando ele cruzou a linha.
Ele disse que Lula é “o cara”.
Eu não confiaria nos EUA. Os americanos sempre jogaram com os brasileiros desde que pudessem controlá-los. Apoiaram o golpe militar no país em 1964. O Brasil sempre esteve no bolso de trás dos EUA, mas agora eles têm que ser mais espertos. Sabem que não podem controlar o Brasil. E Lula é muito importante. Ele se dá com Chávez, com os Kirchner, e com a Colômbia, o Peru e o México, que são aliados dos Estados Unidos.
E Obama?
Nós estamos tentando. Ele é um homem racional, ético, mas faz parte de um grande sistema. Se ele não estivesse lá, estaria John McCain ou Sarah Palin. Você prefere eles? Eu não. Mas, em relação à América Latina, Obama está jogando o mesmo jogo. A reação americana ao golpe em Honduras foi típica.
O sr. vai fazer um documentário sobre o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad?
Não estou pensando nisso no momento. Houve um problema de comunicação. Eu quis fazer o filme, e ele [Ahmadinejad] não quis. Quando ele quis, eu estava fazendo o filme “W”, sobre George W. Bush. (LÍGIA MESQUITA)

“Obama apoiou Lula até quando ele cruzou a linha.”
“A maioria das TVs da Venezuela é dirigida por lunáticos de direita. É uma das imprensas mais histéricas que já vi.”
OLIVER STONE


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