24.10.07

Manifestantes do bem, segundo a rede Globo

Essa eu não poderia deixar passar. Acabei de ver no Jornal da Globo da noite a manipulação mais grotesca de uma reportagem. Era uma matéria sobre as manifestações de estudantes na Venezuela contra a reforma constitucional que o governo do presidente Hugo Chávez esta fazendo. Pela primeira vez eu vi o jornal ficar do lado dos estudantes que protestavam, pois sempre os jornais televisivos mostram os manifestantes como baderneiros sem causa e sempre eles que começam os confrontos jogando alguma coisa na polícia ou exército e esses por sua vez ("cumprindo o seu dever") reagem reprimindo violentamente os estudantes. Essa é sempre a tônica das coberturas jornalísticas em relação a manifestações anti-globalização, anti-Bush, de movimentos sociais e também de estudantes universitários . Agora é diferente, pois como o protesto era contra Hugo Chávez, agora sim os estudantes passaram a ser vítimas da repressão do estado. O "caras e bocas" William Waack deu o tom da reportagem (como sempre) enfatizando primeiramente que os estudantes venezuelanos foram reprimidos pela polícia de "Chávez" e manifestantes pró-Chávez e só depois eles reagiram e alguns foram presos . Se alguém lembrar das reportagens do jornal sobre a ocupação da reitoria da USP e os protestos contra o governo José Serra, percerberá que Waack e Jabor quase pedia em rede nacional para uma repressão da polícia contra os estudantes.
Para finalizar com chave de ouro, em seguida veio o idiota do Arnaldo Jabor fazer seus discursinhos que agradam seus chefes ressaltando que a Venezuela já é uma ditadura e disse ainda que Chávez tem uma política expansionista na América Latina capaz de entrar em confronto inclusive com o Brasil. Se qualquer político norte-americano tivesse visto essa verborragia de Jabor com certeza lhe daria um ossinho, pois se comportou como um típico colonizado subserviente latino-americano.
A Venezuela infelizmente está dividida há muito tempo, não porque Chávez quis isso (isso é o que a mídia brasileira tenta passar), mas começou com o golpe que a oposição e a mídia venezuelana tentou dar em 2002 com apoio dos EUA. A mídia da Venezuela foi ativa nesse acirramento entre quem votava em Chávez e quem não votava nele, pois de forma explícita e covarde chegou a convocar a população a protestar contra o governo, ou seja, virou um partido político. O Eduardo Guimarães do blog Cidadania e presidente da ONG dos sem-mídia testemunhou essa divisão da população quando ele foi pra Venezuela e viu uma briga num bar que começou com uma mulher que vestia uma camiseta do Chávez e a partir daí outros começaram a provocá-la e a xingá-la resultando numa agressão mútua.
As matérias da Globo sempre dão a entender que os conflitos na Venezuela partem primeiro da polícia "chavista" ou dos manifestantes "chavistas", o resto são todos vítimas.
A imprensa brasileira cumpre o papel de "papagaio" das idéias conservadoras de Bush e CIA e tenta fazer crer que Chávez é o diabo subversivo da América Latina tentando persuadir governos contra o "big boss" chefe do norte. Parece que estamos vivendo uma nova guerra fria, só que pra nós aqui o inimigo alardeado pelo consenso de Washington não é mais o comunismo, mas sim o "neo-populismo latino-americano". A paranóia anti-esquerda está de volta na pauta midiática e como a imprensa é monopolizada e não expõe a pluralidade de idéias, todos são obrigados a engolir as "verdades" que os Marinhos, Mesquitas, Civitas e Frias da vida querem.◦
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16.10.07

Reinaldo Azevedo: o novo censor do DOPS

Essa segunda-feira (15/10/07) Reinaldo Azevedo (aquele fascínora que escreve na Veja) escreveu um artigo no jornal Folha de S. Paulo sobre a polêmica dos artigos de Luciano Huck e Ferréz. Digno de um cão de guarda de sua classe, para variar culpou a esquerda por tudo o que há de ruim no planeta, xingou aqueles que gostaram do texto de Ferréz, sem falar no preconceito de classe típico dele, fez uma "louvação" (ou puro puxa-saquismo mesmo) as ações do governo tucano de SP na área da segurança e ainda deu um "pito" no próprio jornal. Em relação as quatro primeiras ações citadas era de se esperar, mas o "puxão de orelha" que ele deu no jornal revelou sua face antidemocrática e autoritária, digna de um censor do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) na época da ditadura militar brasileira.
Azevedo disse que o artigo de Ferréz nunca deveria ter sido publicado, pois não se adequava aos "valores" defendido pelo o que ele entende de democracia. Parece que estamos voltando no tempo e só faltou ele chamar o rapper de "subversivo" (velho adjetivo usado pelos militares para perseguir, prender e torturar "suspeitos" que eles diziam que simpatizavam com o comunismo na época), pois se estivéssemos nessa época da ditadura com certeza Reinaldo faria parte de grupos como o CCC (comando de caça aos comunistas).
O playboy e apresentador Global Luciano Huck pode ter meia página de jornal para choramingar o rolex roubado, mas alguém que exponha uma outra visão sobre o incidente, ou seja, o contraditório não deve ter espaço concedido. Aliás, essa é a prática adotada pela revista Veja, a qual ele e seu coleguinha de conspiração, ops desculpem, de "profissão" escrevem e também boa parte da grande mídia. É isso que pede Azevedo a Folha, pois já não basta aquleles que se identificam como de esquerda não terem espaço na mídia, mas ser pobre e com opiniões que vagamente denunciem uma tal luta de classes, aí tem que ser proibido mesmo.
A grande imprensa já faz esse tipo de censura e quando, por um milagre, essa deixa um rapper como o Ferréz expor sua opinião, eis que surge o cão de guarda do DOPS tentar através da sua dialética agressiva e preconceituosa fazer crêr os leitores que isso deveria ser proibido.
Depois vêm falar que é a esquerda que têm "tentações autoritárias" quanto a liberdade de expressão e de imprensa. Ao contrário, grande parte da esquerda hoje é que pede o pluralismo de idéias no jornalismo (como a recém criada ONG dos sem-mídia), discute políticas que democratizem os meios de comunicação para os diversos segmentos da sociedade e em contraposição ao que a grande imprensa diz, boa parte da esquerda não defende que pessoas como Reinaldo Azevedo sejam censuradas, mas sim que dê um mínimo de espaço para contestação e de retratação no mesmo veículo de informação. Percebe-se, através desse artigo de Reinaldo, que a direita não gosta que as pessoas tenham acesso a outros tipos de pensamento, pois isso pode "contaminar" as mentes dessas. Isso pode levá-las a se tornarem "perigosos esquerdistas" ou "subversivos" (gosto dessa palavra, pq será?). Quando eles (a direita) vêem que têm muita gente não concordando com os consensos fabricados e manipulados, tendem a atacar de forma baixa (como fez Azevedo em seu artigo) e pedir censura prévia tanto de simples artigos de jornal e até livros didáticos, como já foi comentado aqui no blog.
Enfim, esse texto do Reinaldo deixou bem claro a noção de democracia que as elites têm com relação a liberdade de expressão e imprensa e se por acaso (milagre) as 6 famiglias donas do quarto poder no Brasil não conseguirem terem êxito na tarefa, com certeza pedirão a volta do DOPS e quem sabe sugiram o nome de Azevedo como chefe.◦
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13.10.07

Patrulha ideológica dos livros didáticos

Recentemente a revista Veja junto com a Globo vêm travando uma guerra ideológica e patrulhamento dos livros didáticos que são distribuídos gratuitamente aos alunos pelos governos. A "denúncia" surgiu quando uma mãe disse que o livro da filha tinha conotações politico-ideólogicas marxistas e que isso ela não aceitava. A revista Veja, como era de se esperar, veio com a reportagem e a partir daí o diretor de "jornalismo" da Globo Ali Kamel se juntou ao coro anti-subversivo desses livros.
Os artigos de Kamel e de outros reacionários de plantão que acreditam no que ele e a Veja escrevem fez parecer que voltamos na era do macarthismo. O macarthismo ficou conhecido como a época em que o senador dos EUA Joseph McCarthy perseguia e denunciava qualquer um que ele achasse ter vínculo ou idéias que simpatizavam com o comunismo as quais eram chamadas de subversivas e que foi muito bem retratado no filme de George Clooney chamado Boa Noite Boa Sorte (Good Night Good Luck).
Kamel escreveu e pediu o cancelamento da distribuição dos livros de história que continham "erros" sobre assuntos como o período maoísta na China (o livro não dizia que Mao era responsável pelo assassinato de milhões de chineses), sobre o "sagrado" sistema capitalista e acusou o governo brasileiro de tentar doutrinar os alunos com tal ideologia esquerdista. A partir disso, o jornalista Luis Nassif entrou na discussão e apresentou a verdadeira intenção de Kamel que era a de favorecer a editora que pertence a Globo que teria perdido uma fatia dos milhões de reais que os governos destinam para a compra desses livros.
Vale lembrar que esse livro referido por Kamel fazia 10 anos que estava em circulação e que recentemente já teria sido reprovado e suspendido pela avaliação do MEC e de professores. Quem faz a seleção dos livros didáticos são o MEC e os professores das áreas referidas, portanto, não teria nenhuma interferência do governo na escolha, mas sim pura paranóia guerra fria de Ali Kamel.
Sou professor eventual de biologia da rede pública e já vi alguns livros que são distribuídos que continham muitos erros, mas se eu vou dar aula e os alunos possuem o livro, com certeza identificarei tais erros e corrigirei com os alunos. O mesmo vai ser feito pelos professores de história, pois se o livro tiver tais imprecisões históricas o professor vai saber corrigir isso com os alunos e pronto. Não precisa fazer tempestade em copo d´água como esta fazendo Kamel e seus patrulhas do CCC (comando de caça aos comunistas que existiu na época da ditadura brasileira) na imprensa. Qual será a verdade que Kamel quer que seja passada aos alunos da rede pública? Vai ver seria melhor os professores de história e geografia deixarem de lado esses livros para usar a revista Veja e o jornal O Globo onde Ali Kamel escreve suas asneiras, na sala de aula.
Não sei o porque do alarde de Kamel e outros com medo de isso "contaminar" a mente dos alunos e como ultimamente uma escritora aqui de Piracicaba escreveu que o "mal já foi feito". Que mal seria esse? Seria o mal de ter alunos contestadores do sistema tornando-os subversivos?
Garanto que esses 10 anos que o livro circulou nas escolas, não se formou grupos de estudantes Maoístas revolucionários tentando acabar com o sistema capitalista e nem fez aumentar a filiação do partido comunista no Brasil. Assim os alunos se interessassem e lêssem os livros com o intuito de formar uma ideologia, pois quem sabe assim não teríamos alunos tão apáticos como hoje em dia.
Enfim, essa discussão ainda esta dando o que falar e nada vai adiantar mais uma vez a imprensa vir com mais essa retórica anti-esquerda que adota diariamente para também tentar interferir no processo educacional tentando doutrinar até os professores com essa paranóia.◦
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