24.1.13

A relação eterna "Casa Grande e Senzala" no Brasil

Esses dias fui a uma formatura dos cursos da Esalq-USP aqui de Piracicaba. Uma grande festa com muita comida, bebida e atrações variadas para um público de cerca de 5 mil pessoas. Até ai é normal e todo ano é assim, só que eu observei algo que em geral passa despercebido que é a presença quase nula de pessoas negras entre os quase 250 formandos do campus. Eu não vi nenhum, pelo menos que pagou caro pela formatura, quando entrava para a famosa valsa dos formandos e nos telões que passavam os nomes e fotos dos mesmos. Entre o público presente convidado, vi apenas alguns que dava para contar nos dedos das mãos entre, como já citei, as quase 5 mil pessoas ali presentes.
Ali a estatística era fácil de fazer com a simples observação. Entre os formandos: 100% brancos. Entre os convidados: 99% brancos. Entre os empregados do salão: 98% de pardos e negros (pegando a nomenclatura usada para determinação de cor). Essa estatística feita meio por cima na hora do baile de formatura de uma universidade pública no Brasil demonstra que na questão do ensino superior público ainda o número de vagas preenchidas é totalmente favorável aos brancos e ricos do país. Ainda que tenha aumentado o número de estudantes negros em algumas universidades públicas por meio de cotas, ainda os vejo mais nas universidades particulares. E o ProUni também teve um efeito para que isso aumentasse, mas ainda é pouco.
Quando faço esse tipo de observação, me convenço ainda mais sobre a necessidade das cotas nas universidades públicas. Os que são contra as cotas "argumentando" cinicamente e estupidamente que as mesmas são uma forma de racismo, não sabem o que dizem. Querem ignorar essa realidade que todos vêem, mas fingem não existir por simplesmente achar normal.
O sentimento em relação aos pobres, principalmente quando são negros ou pardos, da maioria da classe média e alta ainda é do tipo Casa Grande e Senzala. A internet é onde isso fica bem evidente tanto em comentários quanto em textos que parecem que foram escritos por senhores donos de escravos do começo do século XIX.
A colunista da Folha de S.Paulo, Danuza Leão, famosa por outras asneiras escritas sempre com cunho racista e preconceituoso escreveu mais uma pérola elitista que atesta como pensa a maior parte dessa mesma elite do país. Quem quiser, tape o nariz e leia o texto "Ser especial" dessa senhora. Ela simplesmente diz que não se sente mais especial porque não vê graça em ir a Paris sendo que o porteiro do seu prédio, hoje em dia, pode parcelar uma viagem que antes só ela fazia. Para ela e muitos por ai, ver aqueles que antes só os enxergavam quando estavam limpando o chão, atendendo portas, cuidando dos seus filhos e limpando suas casas, nos aeroportos hoje em dia é o fim do mundo. Daí também o sentimento que já era odioso em relação ao ex-presidente Lula ser ainda maior, pois nos seus dois mandatos isso aumentou vertiginosamente com o crescimento da renda no país.
Pra quem quiser mais tem ainda o texto de uma dondoca, que há muitas por ai igualzinha a esta, que escreveu também essa peça de museu escravista. Leiam aqui a cópia do texto dela que se chama "Viajando com babás". Ela, na maior bondade do mundo, dá dicas de como levar babás em viagens com a família, pois pais cheios de dinheiro não tem tempo nem em viagens para cuidar dos próprios filhos, e ensina as amigas dondocas a trata-las............ como se fossem cachorros. Por exemplo, para não levar a empregada (como se fosse posse mesmo) em restaurante chique, porque "pega mal", então eles a levam antes em um McDonalds que a mesma fica feliz e agradece de coração a viagem que a patroa proporcionou a ela. Uma crítica muito boa sobre o que escreveu a dondoca é esse texto "Babás e empregadas domésticas: relações que perpetuam o racismo e machismo".
Ainda nessa questão, é um absurdo ver que muitas pessoas que tem empregadas domésticas e babás prestando o serviço, obrigarem-nas a usarem um uniforme típico. Se pegar uma foto da época da escravidão onde mostra a relação Casa Grande e Senzala verá que não mudou nada nessa questão. Sem contar que em alguns clubes de ricos em São Paulo, não permitem a entrada de babás sem uniforme e ainda as separam dos sócios! Outro texto bom sobre o assunto é "Uma babá sem uniforme. .." do Leonardo Sakamoto.
A segregação ainda viceja em nosso meio e não percebemos, pois só aqui há elevadores de "serviço" e quarto de empregada!Aliás, esse quarto está sendo exportado para empreendimentos imobiliários fora do Brasil, ou seja, algo tipicamente brasileiro e triste.
E agora a moda é reclamar da falta de diaristas e empregadas domésticas, pois onde já se viu elas pleiteando direitos, né? E agora, depois de 8 anos mais 2 de um governo comunista, deu a elas os mesmos direitos que todo trabalhador tem há anos? Assim pensa e exclama a Casa Grande no Brasil, a qual tem na mídia hegemônica seus porta-vozes, como Danuza Leão, por exemplo, e também pseudos-humoristas, como Danilo Gentili, que agora podem ser abertamente racistas e preconceituosos se auto-intitulando como "politicamente incorretos".
Portanto, o racismo no nosso país ainda persiste com esse tipo de relação submissa entre patrões e empregados, na disparidade de escolaridade entre brancos e negros e também no preconceito típico de ver como ruim a ascensão dos que antes nunca frequentaram alguns lugares que só você era "especial" o bastante para estar lá.


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