15.12.07

A "política social" de São Paulo



Essa foto da capa da Folha de quarta-feira (12/12) ilustra bem a "política social" praticada pelo poder público de São Paulo. Para desocupar um terreno próximo a marginal pinheiros ocupado por barracos, a prefeitura pediu reintegração de posse da área e a justiça mandou a polícia para fazer o trabalho de remoção. Como a especulação imobiliária deve estar com os olhos grandes no terreno, a secretaria de saneamento e energia do estado de SP (que é dona do terreno) quer esses moradores fora dali para negociar á vontade com os empreendedores. Quem revela isso é o próprio assessor da secretaria, que disse que ainda "não sabem" o que vão fazer com a área e deu a seguinte declaração : "não podemos abrir mão de um patrimônio público" e em seguida se contradiz dizendo: "Talvez sirva para um parque ou uma área verde, ou talvez seja uma boa área para vendermos". Ora, se a secretaria não pode abrir mão de um patrimônio público, então por que pensar em vender a área? Esta explícito o interesse imobiliário sobre o terreno e por trás disso também está o preconceito de classe e cor da elite e classe média paulistana que não gostam de ter "esse tipo de vizinhança". Aliás, alguns meses atrás em outro local da cidade, moradores de um condomínio de classe média alta chegaram a protestar contra uma favela que ficava perto, pois diziam que os índices de criminalidade iriam subir e é claro o terreno do condomínio iria desvalorizar-se. Depois dizem que não existe mais luta de classes. Voltando ao incidente, bombas de efeito moral e tratores para demolir os barracos completaram a desocupação com uma consequente revolta dos moradores que pararam o trânsito da marginal pinheiros para protestar. Ai, mais uma vez, a polícia mostrou quem ela quer realmente garantir direitos. As cenas que mostraram um policial jogando gás de pimenta contra uma mulher grávida (que logo a seguir entrou em trabalho de parto) e outras com crianças no colo como se estivesse tocando um rebanho dali, foi terrível. Isso sem contar que esse gás pode matar. Mais bombas e a truculência usual da polícia fizeram com que o protesto acabasse a força. Tudo isso para garantir o "sossego" dos motoristas de carro, pois esses sim têm direitos a ser defendidos.
A imprensa como sempre minimizou o incidente dando mais ênfase no trânsito causado do que na violência empregada pela polícia para retirar os moradores do terreno. É claro que isso foi minimizado para não constranger seus candidatos a reeleição na prefeitura de São Paulo (Gilberto Kassab) e a presidência da república em 2010 (José Serra).
Para o prefeito Kassab e o governador José Serra essa é a política social do estado para favelados e sem-terras. Vale lembrar que essa violência policial empregada nesse triste episódio também é muito requisitada (com apoio incondicional da imprensa paulista) para combater protestos de estudantes universitários e de professores da rede pública.
Infelizmente, as cenas dos policiais retirando com brutalidade moradores da favela (como também ilustra a foto acima) satisfazem um desejo incontido de muita gente. Garanto que muitas pessoas aprovaram a ação policial, pois (isso eu ouço muito por ai) "eles" são pobres porque querem, porque "eles" é que são preconceituosos, porque "eles" não querem trabalhar, porque "eles" vieram do nordeste, porque "eles" são "pretos" e que a solução é fazer uma "limpeza". Essas pessoas esquecem que muitos d"eles" recolhem seus lixos, limpam suas casas, fazem suas comidas, limpam suas ruas e servem e protegem os lugares onde frequentam. Talvez se fosse um condomínio de luxo que tivesse ocupado o lugar irregularmente o desfecho seria bem diferente, pois para os ricos tudo, para os pobres a lei.

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Um comentário:

Anônimo disse...
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