
No caso da catástrofe da região serrana do Rio, vale lembrar que tivemos episódios semelhantes em 2008, em Santa Catarina, onde houve mais de 120 vítimas fatais, e em 2010, Angra dos Reis (RJ), que também morreram mais de 50 pessoas. Nas três tragédias o que fez com que o número de vítimas fosse tão grande foram as verdadeiras “avalanches” de terra que ocorreram e levaram tudo o que tinha pela frente. As imagens desses episódios são desesperadoras de ver e mostra a força dessas catástrofes naturais. Nesses casos o cenário é o mesmo, ou seja, ocupações irregulares em encostas, topos de morros e beira de rio. São áreas que vários estudos comprovam que não deveriam ser ocupadas por edificações e nem serem desmatadas. Tanto que há a lei nº 4.771/65 que institui o Código Florestal, que proíbe construções nessas áreas e estabelece outras medidas essenciais a proteção do meio ambiente. É ai que reside a omissão dos governos, principalmente os municipais, em não fazer cumprir essa lei. Infelizmente isso ocorre há muito tempo e há muitos interesses envolvidos. Há as ocupações de comunidades pobres, que por falta de opção e devido à especulação imobiliária, faz com que se instalem nessas áreas. Por outro lado, também há os interesses imobiliários de instalação de condomínios particulares, hotéis e resorts, onde geralmente são prontamente atendidos pelas prefeituras. Isso tudo acontece em todo o país, pois é só observar atentamente quando viajar para qualquer parte do litoral brasileiro. Qualquer um testemunhara que, ainda mais agora com a especulação imobiliária de luxo através dos condomínios fechados, a lei anteriormente citada foi e esta sendo desrespeitada com a complacência das “autoridades”. Na recente tragédia do Rio, a natureza não fez distinção entre ricos e pobres e algumas cidades ficaram quase que totalmente destruídas. Agora não adianta culpar as chuvas ou tentar fazer jogo político com a tragédia. A culpa e omissão são de todos, principalmente, é lógico, dos governos (federal, estadual e municipal) e tanto os atuais quanto os antecessores. Não adianta também dizer que tanto de dinheiro não foi investido aqui ou ali, porque nesse caso o problema não é dinheiro e sim o cumprimento estrito da lei, ou seja, são construções que não deveriam existir ali ou que deveriam ter estudos muito bem elaborados para cada caso. Infelizmente, a partir do momento que não tem mais mata pra segurar o terreno que está deslizando, não só essa como as outras tragédias citadas anteriormente aconteceriam do mesmo jeito. O melhor mesmo é prevenir. E como? Não permitindo mais ocupações (qualquer uma) nessas áreas e fazer com que os municípios de todo o país cumpram a lei. Agora o governo oportunamente diz que irá cobrar mais dos municípios que cumpram a lei e lança um plano de prevenção de tragédias. Só agora que se pensa nisso? Cobrar mais é preciso e é urgente, mas infelizmente a principal lei, a do Código Florestal, está para ser mudada e para pior. Vergonhosamente a iniciativa parte de um membro do próprio governo, o deputado Aldo Rebelo (PC do B), o qual ganhou apoio da bancada mais retrógrada e anti-ambientalista do congresso: a ruralista. Esta bancada é quase inteiramente composta por membros da oposição e o deputado “comunista” conseguiu a façanha de se aliar à senadora, ganhadora do prêmio moto-serra de ouro do Greenpeace, Kátia Abreu (DEM) e de parte da imprensa brasileira, que inclui figuras exóticas como o acéfalo e histriônico Reinaldo Azevedo. Se ocorrer essa mudança no Código Florestal, tragédias como a atual serão mais freqüentes. Um exemplo didático de como ser inconseqüente e falta de senso é o que fez a Assembléia do estado de Santa Catarina. Mesmo depois da maior tragédia do estado, os deputados estaduais aprovaram mudanças na legislação ambiental, dentre elas o absurdo de diminuir as áreas de preservação permanente (APPs) no entorno dos cursos d´água de no mínimo 30 metros (que é o previsto no Código Florestal) para apenas 5 metros. Ainda bem que essa insanidade esta sendo contestada judicialmente pelo ministério do meio ambiente e a mudança ainda não foi implementada. Isso é um exemplo do que está por vir com a alteração do Código Florestal e isso representara um retrocesso para o país na questão ambiental.
Portanto, a manutenção e aplicação do Código Florestal é essencial principalmente para regiões onde ainda há muito o que preservar e que inclusive era um dos atrativos das cidades atingidas da região serrana do Rio. Outro fator importante, o qual deve servir para todas as cidades do país, é o combate à especulação imobiliária e realizar políticas públicas voltadas para democratizar a utilização dos imóveis e não deixar de investir em infra-estrutura. Mas o principal é a mudança, ou melhor, que a sociedade em geral se conscientize da sua relação com o meio ambiente, pois o que fazemos é apenas utilizar predatoriamente e irresponsavelmente os recursos naturais. Muitas tragédias acontecem pelo mundo todo e nos alertam para isso faz muito tempo e já passou do momento de pensar e refletir. Não devemos esquecer que o planeta existe há muito mais tempo que nós e passou por varias eras que nunca sobreviveríamos. Portanto é obrigação dos governos e de todos os cidadãos agirem a favor de todas as espécies vivas e recursos que esse planeta dispõe para gente, pois com isso estaremos garantindo nossa sobrevivência.
OBS: Quem quiser ver fotos incríveis e muito bem feitas dessa tragédia do Rio acessem aqui.
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4 comentários:
Parabéns pelo texto. Beto consegue traduz em poucas palavras a tragédia política que vivemos com relação ao meio ambiente
E cadê a Marina Silva, ela ainda não se manifestou?
Lá em SC as coisas devem piorar, pois quem ganhou o governo foi DEM.
Beto.
Gosto muito de seu blog. Mas, algo está me afastando dele! É o incomodo de, automaticamente, surgir uma voz feminina repetindo a historia do serra no CE, etc e tal. Pô! Para desligá-la tenho que rolar a página até não sei onde!!! Ou vc retira do ar esta historia que já deu pano para mangas ou coloca o botão "off" logo na começo!!!
Jairo
P.S. E, o pior que que o som é da cbn!!!
Obrigado Israel e com o PFL (vulgo DEM) no poder novamente em SC, a situação ambiental tende a piorar.
Caro Jairo: infelizmente eu não sei mexer direito nessas ferramentas da internet e não estou conseguindo fazer parar o áudio da CBN, a qual postei em um outro artigo. Desculpa ai, mas não "manjo" muito disso e estou tentando melhorar.
Abs
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