25.5.10

A hipocrisia dos EUA e da imprensa sobre o Irã

Como já se esperava, a grande imprensa brasileira (PIG) agiu de forma infantil e subserviente sobre o acordo mediado pelo Brasil e pela Turquia para a destinação do urânio produzido pelo Irã. O Brasil agiu corretamente e com muita soberania nessa questão e conseguiu se afirmar como um país sério que está disposto a participar cada vez mais de negociações e decisões de diversos assuntos. O Brasil passa a ocupar um posto jamais conquistado anteriormente e isso se deve a competência e seriedade do atual governo nas relações internacionais, principalmente na figura do chanceler Celso Amorim. Isso tudo é insuportável para a elite e sua imprensa que nunca imaginou um ex-metalúrgico sendo tratado de igual para igual com os lideres das nações mais poderosas e ainda sendo elogiado muito por estes. Para isso, a dobradinha oposição/PIG mais uma vez entra em cena para tentar desconstruir essa imagem para manipular o povo brasileiro. Utilizam recursos que remetem até a guerra fria, tentando associar as relações internacionais do país com um suposto laço ideológico com algumas nações consideradas, segundo sempre o consenso de Washington, “perigosas”, “mal vistas” ou pertencentes ao tal “eixo do mal”. Com certeza muitas dessas e outras são perigosas, mais internamente, mas a seletividade com apenas algumas é que demonstra a falsidade e hipocrisia não só da dobradinha oposição/PIG, mas principalmente do país que estes são e sempre foram súditos: os Estados Unidos da América (EUA). No atual imbróglio sobre o Irã, os EUA e Israel querem fazer de tudo para tentar justificar uma ação militar contra o país. Eles tentam, inclusive com apoio da maioria da imprensa ocidental, fazer a pior imagem possível do Irã, usando inclusive as questões religiosas e de comportamento internas que vigoram no país. Sobre isso, é detestável ver como a falta de liberdade individual, de expressão e de imprensa no Irã revelam essa face autoritária do regime dos aiatolás, mas não justifica as sanções que os EUA querem impor ao país. Se for assim, porque não impor sanções contra a China? a Arábia Saudita? o Paquistão? Lógicamente porque estes países são aliados tanto comerciais, como é o caso da China, quanto militares, como é o caso do Paquistão e Arábia Saudita, dos EUA. São ditaduras também e são até piores internamente que o Irã. Os EUA também não têm moral para cobrar direitos humanos de nenhum país, pois os desrespeita com suas bases de tortura e pris clandestinas pelo mundo afora, pelas invasões não autorizadas e destruição dos países invadidos e a morte de milhares de civis destes.
Já a tal ameaça iraniana ao mundo que tanto falam EUA e a imprensa não é bem assim. O Irã não é a ameaça, mas sim o ameaçado nessa questão. Se olharmos para o mapa, veremos que o país está cada vez mais cercado por inimigos, pois Afeganistão e Iraque foram invadidos militarmente pelos EUA que estão lá até hoje. Há também o Paquistão, que é aliado militar dos EUA. Aliás, esse país sim é preocupante, pois já possui bomba atômica e não faz parte de nenhum tratado internacional, é inimigo histórico da Índia (que também possui a bomba atômica) e possui várias células de grupos extremistas islâmicos. Sobre isso a imprensa pouco fala. E a verdadeira ameaça não só ao Irã, mas à todo o Oriente Médio é Israel. Esse país possui diversas armas nucleares, químicas e biológicas. Além disso, não faz parte de nenhum tratado internacional sobre armas nucleares, não admite que as tenham e por isso não permite nenhum tipo de inspeção internacional sobre suas instalações militares. Constantemente, o governo israelense se coloca sempre como suposta vítima ou ameaçado pelo Irã, sempre com o apoio incondicional dos EUA. Para isso, a imprensa ocidental é essencial na fabricação de um consenso em torno da figura do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Com certeza suas declarações sobre o holocausto são deploráveis, pois coloca em dúvida a ocorrência deste, mas ao mesmo tempo membros do governo israelense também dão declarações racistas e preconceituosas contra os muçulmanos e árabes que não são repercutidas com a mesma intensidade que fazem com Ahmadinejad. O ministro das relações exteriores de Israel – Avigdor Lieberman - é adepto do projeto higienista e segregacionista chamado Grande Israel, o qual propõe a expulsão de todos os árabes de Israel e da Palestina. Com o Ahmadinejad, a imprensa sempre repete que ele quer “varrer Israel do mapa”, mas não fazem o mesmo quando citam o Lieberman. Aliás, essa declaração de Ahmadinejad é contestada por especialistas em persa de que isso foi traduzido falsamente para tentar dar “razão” á sanha militar israelense. Uma análise sobre isso pode ser lido aqui.
Enfim, a hipocrisia dos EUA e Israel em tentar mostrar o Irã como um possível agressor, não passa de cortina de fumaça para mais uma vez imporem a força a mudança de um governo e regime. Portanto, o Irã tem todo o direito de buscar a auto-defesa diante dessas ameaças e está sendo até benevolente demais devido ao enorme arsenal nuclear de Israel. O Irã deveria condicionar o acordo à uma adesão de Israel à tratados internacionais sobre armas nucleares e eliminação destas para abandonar seu projeto nuclear. Como Israel não admite e não está nem ai, o Irã esta certo em insistir em seu programa nuclear. A diplomacia brasileira busca através desse acordo se colocar como um país que busca o diálogo e ganha projeção internacional reafirmando independência e soberania em relação ao EUA. O PIG aqui tenta alardear que isso fez o Brasil ficar mal-visto pelos norte-americanos e adoraram as declarações da Hillary Clinton. Os alienados aqui até ficaram com medo de irritar os todos poderosos norte-americanos e como o PIG almeja, quer tentar usar isso politicamente para usar contra Lula e sua candidata Dilma Roussef. Isso demonstra que estes ainda são guiados pela ideologia da época da guerra-fria e torcem intensamente para o fracasso do acordo. Agora, o acordo parece que vai mesmo vingar e países como a França e a China que tem poder de veto no conselho de segurança, demonstraram apoio.
Para os que ainda tem dúvidas sobre o assunto, sugiro que vejam o vídeo abaixo com a entrevista na GloboNews do diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa. É uma entrevista didática sobre as questões políticas e técnicas sobre o acordo e o contexto da questão nuclear iraniana. Inclusive, pode-se perceber que o entrevistado frustra os jornalistas da Globo, pois achavam que ele iria bater na mesma tecla em condenar o acordo e o Irã. Confiram:


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Um comentário:

Bruno Peron disse...

Beto,
Seu artigo expõe uma visão pertinente do que ocorre no Oriente Médio.
Os países que se opõem ao programa nuclear iraniano, que é declaradamente para fins pacíficos, são os que mais possuem armas nucleares.
O posicionamento da imprensa brasileira é lamentável. É a que menos sabe sobre o que fala. Compra notícias de grandes agências internacionais, quase todas estadunidenses e europeias, e assume-as como dogmas.