18.2.10

Que Serra nos Arruda?

O escândalo envolvendo o governador do distrito federal, José Roberto Arruda (ex-DEM) e sua base de apoio de deputados distritais, atingiu o seu ápice com a prisão inédita do governador. As gravações em vídeo da corrupção, onde aparece diretamente Arruda recebendo dinheiro, chocaram o país, mas infelizmente todos sabem que isso não é exclusividade de Brasília. Logicamente que por causa disso não justifique a ação criminosa do bando de Arruda, mas seria ótimo que aparecessem mais gravações de tantas outras administrações públicas do país por ai. Geralmente esses escândalos têm interesses por trás que envolvem políticos, empresários e a imprensa. No caso do distrito federal, pode ser que haja uma mãozinha do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB), o qual é tão corrupto quanto Arruda.
O ex-partido de Arruda, Democratas (antigo PFL), que na esfera federal é oposição radical ao governo Lula não demonstrou o mesmo ímpeto “ético” que tenta passar nos escândalos que atingem o governo federal. No começo tentaram afasta-lo, mas Arruda ameaçou e com isso obrigou-os a um acordo e ele deixou a legenda. José Roberto Arruda não era nenhum “zé ninguém” dentro do partido e tinha influência com os coronéis. Já era considerado o político mais proeminente do partido, pois era o único governador eleito pela legenda, e era muito cotado para ser vice em uma eventual chapa presidencial com o governador de São Paulo, José Serra. Até 2001, Arruda era do PSDB e foi líder do governo FHC. No vídeo abaixo, Serra declara essa chapa fazendo até uma brincadeira dizendo: “vote em um careca e ganhe dois”.

Esse video foi pouco divulgado pela imprensa brasileira, pois como já citei em outro artigo, nessas eleições a grande imprensa se torna as Organizações Serra de Jornalismo, onde o intuito é blindar o governador para tentar elege-lo esse ano. Mesmo com Arruda a mídia de certa forma está “pegando leve” com as denúncias e ainda tentam colar nesse escândalo a imagem do presidente Lula. As manchetes sempre tentam jogar que Lula esta sendo conivente com o caso. Já os ex-colegas de partido que alguns defendem e outros fazem de conta que querem a punição do governador é muito pouco explorado. As manifestações contrárias ao governador em Brasília foram reprimidas violentamente pela polícia e a maior parte da imprensa fez pouco caso disso. Nas gravações também há empresas envolvidas no escândalo, as quais mantêm contratos milionários com o governo estadual paulista e o governo do município de São Paulo como mostra essa reportagem da revista Carta Capital publicada no site do jornalista Luiz Carlos Azenha.
É sempre bom fazer uma reflexão do contrário, ou seja, de como seria o comportamento dessa imprensa e a repercussão se esse escândalo atingisse o PT. A mídia corporativa tem um ranço com o PT e quase sempre qualquer minúcia envolvendo o partido é superescandalizado. Se o caso envolvesse um possível candidato a chapa de Dilma e que este já tivesse sido do PT e líder do governo Lula, ai teríamos uma superexploração do caso. Com certeza iriam fazer todas as possíveis ligações da rede de corrupção com políticos do PT, iriam repetir incansavelmente o vídeo de Dilma brincando com uma possível chapa com o corrupto e a repressão contra os manifestantes seriam tachadas de “policia stalinista” ou “bolchevique” ou ainda um prenúncio de uma ditadura contra os direitos civis em mais um governo petista. Como tudo isso envolve um político de oposição e vinculado a Serra, então o caso é individualizado e suas ramificações são muito pouco exploradas.
Aliás, essa imprensa, especificamente a “revista” Veja, pouco antes de estourar esse caso elogiava Arruda e sua gestão “eficiente”. É o que se vê nessa foto retirada das páginas amarelas da Veja onde diz que ele é o governador que deu a volta por cima.
Coincidentemente, como também mostra a nota do diário oficial do estado nessa foto, o governo de Arruda brindou a editora Abril com a assinatura da “revista” Veja totalizando cerca de R$ 450 mil em contrato de um ano.
Alem de Arruda, José Serra também gosta de ajudar financeiramente, ou melhor, retribuir o favor que seus amigos da mídia fazem para ele. De acordo com o diário oficial do estado de São Paulo, entre 2007 e julho de 2009, Serra gastou cerca de R$ 76 milhões em assinaturas sem licitação de publicações de grandes corporações midiáticas. Todas foram direcionadas para a educação, como a revista Nova Escola (editora Abril) que foi distribuida a todos professores da rede. No ano passado, já mais perto das eleições, o governo estadual paulista assinou para as escolas a revista Veja, a revista IstoÉ, o jornal O Estado de S.Paulo e o jornal Folha de S.Paulo. Tudo sem licitação e com dinheiro público financiando aqueles que fazem campanha para ele. Esse vídeo exemplifica um pouco isso. É mais um incentivo de Serra para os amigos, mas para a educação são migalhas que enfeitam a propaganda enganosa de seu governo.
José Serra tem um perfil autoritário e não gosta de ser questionado. Quando isso é feito (o que é raro) ele não responde ou responde de maneira grosseira. Ele fez isso quando um repórter da TV Brasil perguntou sobre a falta de água que afetava quase 800 mil pessoas em plena cidade de São Paulo, pois a Sabesp (que é vinculada ao estado) tinha responsabilidade. Serra foi ríspido na resposta e reclamou da pergunta, ou seja, tem seguir o manual que a grande imprensa segue quando o entrevista não fazendo nenhuma pergunta incômoda. O vídeo pode ser visualizado aqui. Dias depois, quando a cantora Madonna veio ao Brasil e foi recebida por ele e seu “secretário da educação” no Palácio dos Bandeirantes, ai ele falou bastante quando foi perguntado sobre o que conversou com ela. Serra disse que a cantora vai tocar um projeto voltado para a educação, onde o estado de São Paulo não irá gastar nada e vai “entrar apenas com as crianças”. Investir em educação não é plano de governo dele nem do seu partido.
Para finalizar e exemplificar como o governador se preocupa com o interesse público, o vídeo abaixo mostra que ele faz por merecer o apelido que ganhou na internet: Zé Pedágio. Os pedágios são as verdadeiras políticas de governo do PSDB no estado de São Paulo e as empresas certamente garantem uma boa ajuda para estes durante a eleição. Vale lembrar que além de pagarmos o IPVA mais caro do Brasil, também temos que arcar com os pedágios mais caros do país. A implantação de praças de pedágios está a todo vapor e cada vez mais está ilhando cidades inteiras. Só a região de Campinas é cercada por 22 pedágios. É a sanha privatista entreguista de Zé Pedágio.

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Um comentário:

Bruno disse...

Beto, está bem argumentada a relação de políticos influentes com o apetite da revista Veja, o Estadão, a FSP e outros panfletos baratos da direita. Porém, não creia que a venalidade não percorre as entranhas do PT e outros partidos ditos de esquerda. O problema é o que esses caras têm que fazer para alcançar o poder numa sociedade onde o voto se troca por bagatela e, uma vez nele, o desafio de concretizar ideais e promessas. Tem tópicos do seu artigo que dariam uma enorme discussão, como a implantação de praças de pedágio através de – os vampiros tucanos não gostam do termo “privatização” – sistemas de concessão de rodovias, ou o papel da imprensa pública no jornalismo de denúncia.