A tragédia causada pelo terremoto no Haiti matou até agora cerca de 100 mil pessoas e desabrigou 3 milhões. Uma catástrofe sem precedentes e que gerou mobilização mundial, de líderes políticos até artistas, para a causa humanitária desesperadora que passa o país. Mesmo que muitos usem isso, principalmente artistas, para fachada ou para atrair holofotes, toda a ajuda é bem vinda. O Brasil tem papel importante no país, pois está desde 2004 cumprindo missão de paz e estabilização pela ONU, os quais também sofreram baixas. O que foi pouco divulgado e discutido foi o histórico de invasão e manipulação política-econômica que os EUA exerceram no Haiti. Divulgam a história bonita que é ser o primeiro país a abolir a escravidão em 1794 e posteriormente derrotou os franceses, mas pouco falam sobre o bloqueio imposto pelos países escravistas por 60 anos devido a esse ato de "rebeldia". Os norte-americanos invadiram o país em 1915 e ficaram no poder até 1934 para cobrar dividas do Citibank e mudar a lei para permitir a venda das plantations aos estrangeiros, conforme revela o escritor Eduardo Galeano em seu excelente texto intitulado “ A história do Haiti é a história do racismo na civilização ocidental”. Além disso, os norte-americanos apoiaram diretamente as ditaduras mais sangrentas, como a dos Duvallier e o terror dos Tonton Macoutés e colocaram e retiraram Jean- Bertrand Aristides do poder. O terror e miséria do país é conseqüência direta da intervenção e imposição dos interesses dos EUA no país e ainda há os que reclamem da ajuda tanto humanitária quanto mais monetária que os países estão mandando. É triste ver como há pessoas sem um pingo de humanidade não quererem que seus países ajudem financeiramente o Haiti. É o que ocorre tanto nos EUA como no Brasil em muitas manifestações que tem na base o preconceito religioso e o racismo. O próprio cônsul do Haiti no Brasil expôs isso na Televisão sem saber que estava sendo filmado e pelo mesmo caminho grotesco foi o pastor evangélico da TV norte-americana Pat Robertson. Ambos enveredaram pelo mesmo “argumento” de que o desastre também teria sido conseqüência dos rituais de Vodu seguidos pela maioria dos haitianos. No caso desse pastor e outros conservadores dos EUA, eles apelaram em rede nacional para que a população dos EUA não doasse nada para o Haiti para não favorecer as políticas do Obama. Nesse aspecto, os conservadores de lá tem muitas semelhanças com os daqui, pois aqui não perderam tempo em criticar o governo Lula pela ajuda de cerca de 300 milhões de reais para o Haiti. O Brasil também esta passando por tragédias naturais como as enchentes que já mataram e desalojaram muitas pessoas, mas não se compara com o que ocorreu no Haiti. Aqui o governo esta ajudando e já anunciou ajuda as famílias afetadas, mas o oportunismo político para atacar Lula não é desperdiçado, como é o caso desse infeliz da RBS TV do Rio Grande do Sul chamado Lasier Martins. Clique aqui e veja o quanto uma pessoa pode ser ridícula e sem-vergonha e como pode ser manipulador um jornal. Aliás, no caso das enchentes aqui em São Paulo ninguém questiona ou critica o governador José Serra, que nessas horas some e aparece em situações estratégicas para os holofotes da mídia.
Uma outra noticia, que saiu no jornal britânico The Guardian e traduzida pelo site do jornalista Luiz Carlos Azenha, me deixou estarrecido. Há apenas 90 quilômetros do desastre no norte do Haiti, precisamente em Labadee, transatlânticos luxuosos ainda atracam em praias alugadas pelas grandes companhias de cruzeiro para os seus passageiros nadarem, andarem de jet ski e curtirem aprazivelmente o lugar bonito cheio de florestas. Essas praias são praticamente privatizadas e são seguras por homens fortemente armados, ou seja, ninguém quer ver haitianos famintos “invadindo” esses lugares que se tornaram “privados”. Aliás, o mesmo ocorre em muitas praias onde há resorts aqui no Brasil. A desculpa das empresas e autoridades haitianas, certamente corruptas, é de que investiram milhões para reformar o lugar e dão empregos há alguns haitianos, ou seja, como sempre retribuem com migalhas ao povo. Isso sim é um absurdo e mostra que mesmo um país que já passou por muitas tragédias, sendo essa a pior, os intere$$e$ acabam prevalecendo.

OBS: Este texto foi publicado no jornal A Tribuna de Piracicaba.
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