6.8.09

Os Novos Consensos da Imprensa Brasileira

O comportamento da imprensa brasileira em relação à assuntos de política internacional sempre foi pautada pela visão norte-americana de enxergar o mundo. Até hoje, nós sabemos muito mais do que acontece internamente nos EUA do que nos países vizinhos da América do Sul. Vale sempre lembrar que a mídia apoiou o golpe de 64 e até ajudou a transportar presos políticos para os centros de tortura, como é o caso da Folha de S. Paulo que disponibilizava suas peruas da Folha da Tarde (como era chamada na época) para isso. O período da guerra fria ajudou os grandes grupos de comunicação a literalmente fabricar consensos em torno do “perigo vermelho” ou “comunista”. Todas as ações brutais de ditaduras latino-americanas e intervenções militaristas dos EUA em países da América Central eram “justificadas” pelo medo do comunismo. O muro de Berlim caiu, mas alguns até hoje crêem em uma armação das esquerdas que estão tomando o poder através dos processos eleitorais para implantar de vez o comunismo no mundo. A imprensa brasileira seguiu e segue os ditames e formulações do departamento de defesa dos EUA para classificar “bons” e “maus” governos. Se George W. Bush disse que o Irã, a Coréia do Norte e o Iraque eram o “Eixo do Mal”, então a mídia repetia isso e pronto, eles são do mal. As outras ditaduras, inclusive árabes, apoiadas até hoje pelos Estados Unidos, tudo bem. Como os EUA não tinham mais o comunismo como inimigo a ser combatido, então veio a guerra as drogas e o terrorismo islâmico e com isso puseram em prática novamente métodos de tortura e invasão de países afora. Por aqui a imprensa prega o medo do “chavismo” ou “neo-populismo”, pois qualquer governo que tenha políticas públicas distributivas objetivando os mais pobres, pronto, já é tachado de populista. Aqui a verborragia de analistas e jornalistas é contra Bolsa-Família e cotas. Por que será que isso incomoda tanto se o dinheiro destinado à bolsa-família, por exemplo, é um pingo no oceano nos gastos do governo? Será que é porque são políticas públicas voltadas para pobres e negros? Mera coincidência, com certeza.
A imprensa brasileira tem como novo Fidel Castro a ser demonizado o presidente venezuelano Hugo Chàvez. Embora tenha perfil autoritário, não é um ditador, mas isso não importa, pois o que importa é jogar essa pecha nele. Aqui no Brasil, as manifestações de estudantes sempre são criticadas e rechaçadas pela imprensa, ainda mais se for contra o candidato deles que é o José Serra. Na Venezuela ou na Bolívia eles são as vítimas, pois lutam pela “democracia”. Qualquer país que se aproxime da Venezuela o faz por motivos “ideológicos” segunda a nossa mídia. Frequentemente a grande imprensa bate forte na política externa do governo dizendo que é guiada por ideologias. Nada a ver, pois quem é ideológico é a imprensa, pois se um país não aceita ter relações diplomáticas e econômicas com a Venezuela, por causa das idéias do seu presidente, isso sim é ser ideológico.
Aliás, Hugo Chávez virou o falso pretexto perfeito para a direita latino-americana ressuscitar o medo do socialismo, agora bolivariano. Com isso estão tentando “justificar” o golpe militar em Honduras e agora recentemente a instalação de bases norte-americanas na Colômbia. Nesse caso, Álvaro Uribe é o presidente predileto e modelo da nossa imprensa, mesmo ele tendo relações muito amistosas com narcotraficantes e paramilitares. A guerra às drogas implantada pelos EUA através de bilhões de dólares destinados principalmente à Colômbia se mostrou ineficaz e falsa, pois tanto a produção quanto o consumo de entorpecente cresceu no mundo. Um exemplo grotesco desse jornalismo engajado ideológicamente daqui foi quando vi Boris Casoy, em mais um de seus comentários reacionários, dizer que a instalação de bases militares dos EUA na Colômbia era justificada devido a “ameaça chavista”. A mídia fica alardeando sobre as compras de armamentos do governo venezuelano, mas se esquece que os países que mais gastam com exército na América Latina são Brasil e Colômbia. Alguns até recuperam os clichês da Guerra Fria dizendo que o perigo é que Chàvez está se aproximando dos russos. Como se vê a paranóia anti-esquerdista ainda esta viva na América Latina, pelo menos nos grandes meios de comunicação.
OBS: Esse artigo foi publicado no site do Observatório da Imprensa nesse endereço:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=550FDS014
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2 comentários:

Cappacete disse...

Se o Serra ganhar o ano que vem o cerco irá se fechar contra Chaves, e de quebra ainda tem a direita Argentina que vem ganhando força, este panorama está lembrando muito a guerra do Paraguai no século XIX, um presidente nacionalista querendo desafiar o Império, só que desta vez é na Venezuela, e o Brasil é o file da balança, no século XIX era Argentina, quando esta passou para o lado do Império a guerra estourou, dessa vez é o Brasil. É só pesquisar...

Cappacete disse...

fiel da balança