6.1.09

Gaza agoniza

Há alguns anos eu assisti à um documentário chamado "Promises", que mostra qual a visão de crianças palestinenses e israelenses uns sobre os outros e a situação vivida por ambos. O autor é B.Z. Goldberg, israelense radicado nos Estados Unidos, e fez com que minha visão sobre o conflito Israel-Palestina mudasse completamente. Lembrei desse documentário devido a nova escalada de violência que está acontecendo na Faixa de Gaza. Esse conflito gera muita discussão que abrange mais aspectos religiosos e políticos. Os dois lados têm fundamentalistas, extremistas ou qualquer nome que dêem a fanáticos religiosos que querem um a destruição do outro. Do lado palestino os extremistas possuem o próprio corpo e usualmente foguetes caseiros chamados "qassam" que levam consigo pregos e tudo que possa estilhaçar e alcançar uma área maior. Do lado israelense os extremistas possuem um exército fortemente armado com armas de última geração e estão usando bombas de fósforo e mísseis que carregam urânio empobrecido. Fora as centenas de ogivas nucleares que Israel possui, segundo o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, e não aceita inspeções internacionais e não faz parte de nenhum órgão de países que possuem armas atômicas. Os extremistas no caso são o Hamas, que foi eleito em eleições referendadas por observadores internacionais, e o governo de Israel, o qual possui extremistas mais extremistas ainda que estão na oposição e prestes a governar o país. Esse é o cenário que existe atualmente nessa região. Qualquer pessoa de bom senso vê a enorme disparidade de forças.
Voltando ao documentário, quando este mostra a situação dos palestinos e seus refugiados, não têm como se manter neutro perante essa questão. Os palestinos vivem sob constante toque de recolher imposto por Israel, onde escolas e universidades são fechadas por tempo indeterminado e qualquer um que estiver nas ruas corre o risco de ser morto pelas tropas israelenses. Também dependem da boa vontade de Israel para ter acesso à água e eletricidade e vivem em verdadeiros guetos, principalmente Gaza, onde o esgoto e falta de água tratada é comum. Sofrem humilhação de colonos judeus e outros moradores de cidades próximas israelenses. Isso tudo é mostrado nesse documentário que foi feito em 1997. Há também a prisão constante de palestinos sem qualquer acusação formal, simplesmente por serem "supeitos". Deve ser difícil crescer e viver em lugar onde seu pai, seu irmão ou qualquer parente pode ser preso à qualquer momento por forças de outro país que invadem sua casa livremente para fazer o que quer. O pior é que Israel também prende e tortura crianças palestinas, segundo a Anistia Internacional, e alguns órgãos palestinos afirmam que há centenas de crianças presas. Israel também se dá o direito de invadir território palestino e destruir casas e comércios de pessoas que sejam parentes de "homens-bomba" ou de "suspeitos" envolvidos em ataques contra o país.
Raízes da discórdia
A história mostra que esse conflito começou lá atrás desde a criação do Estado de Israel em 1948 em que os países árabes foram contra e entraram em guerra contra o estado judeu. A guerra dos seis dias em 1967 foi decisiva para que Israel anexasse mais territórios palestinos e ainda as colinas de Golan da Síria. Nessa guerra e após também o que aconteceu na região foi a expulsão de milhares de palestinos, os quais estão em campos de refugiados até hoje, na base da extrema violência por parte de Israel. Houve casos de tentativas de limpeza étnica em algumas cidades, antes palestinas e agora israelenses como Ashkelon, onde o que foi praticado foi puro genocídio. Os palestinos também são ignorados por outros países árabes como Egito e Jordânia que são coniventes com Israel. Vale lembrar que os países árabes da região são ditaduras brutais, mas a maioria conta com apoio dos EUA , devido à muitos terem petróleo, e tudo fica como está.
Imprensa
A imprensa ocidental é um caso à parte nesse conflito, pois sempre foi pró-Israel e tenta sempre minimizar as consequências das ações militares israelenses, embora na atual situação a imprensa , pelo menos do Brasil, finalmente está mostrando o lado palestino. Essa tendência da mídia é reforçada por usar como fonte apenas o que é passado pelo governo ou pelo exército israelense. Por exemplo, quando Israel lança ataques esporádicos sobre a população palestina e assassinam várias pessoas, a informação passada em todo o mundo é que são "assassinatos cirúrgicos" e que todos os mortos eram "militantes" segundo fontes israelenses, e fica por isso mesmo. Na questão militar a imprensa israelense quase que totalmente apóia as ações do governo. Há um ótimo texto publicado na revista piauí sobre isso que é de autoria de Yonatan Mendel que pode ser acessado no Observatório da Imprensa nesse endereço:
Esse texto diz tudo sobre a questão da imprensa israelense e como isso reflete para o resto do mundo. Nessa questão é bom observar que qualquer um que seja crítico das ações militar de Israel já é tachado de "anti-semita", "terrorista" e outros adjetivos que a direita, que sempre está do lado israelense, gosta de colocar. Infelizmente os que tentam mostrar apoio à ação de Israel repetem sempre a mesma coisa dizendo que Israel nunca ataca, mas só se defende e também que tudo é culpa do Hamas, do Hizbollah ou até do Irã. O governo de Israel sempre é "vítima" e "obrigado" a tomar essas decisões visando somente "proteger" a população israelense. Segundo estes, as vítimas civis palestinas são justificadas pois os foguetes palestinos eventualmente matam civis em Israel. Já que querem comparar essa barbaridade, esquecem que agora, por enquanto, de cada 1 israelense morto 100 palestinos são assassinados.
Situação atual
A imprensa internacional agora sente na pele a arrogância, prepotência e autoritarismo do governo de Israel, pois não estão permitindo jornalistas estrangeiros entrar em Gaza. Os jornalistas estão tendo acesso somente ao que é conveniente ao governo israelense divulgar, embora já seja comum isso, mas com todos esses mortos do lado palestino é difícil tentar tapar o sol com a peneira.
Na guerra do Líbano em 2006 Israel assassinou cerca de 1.200 pessoas, sendo a maioria de civis e até agora matou mais de 500 em Gaza sendo também a maioria civis, pois o lugar é densamente povoado. O que está acontecendo em Gaza é massacre, genocídio e qualquer nome que se dê ao assassinato em massa de uma população como forma de punição coletiva. O que os palestinos fizeram de errado perante a comunidade internacional foi eleger o Hamas. Ora, eles foram eleitos democraticamente e o resto do mundo condenou isso. Perante Israel, todos os palestinos são terroristas em potencial e ainda mais os de Gaza que confiaram o poder ao Hamas. Isso é mais um motivo para Israel tentar justificar a carnificina e de olho nas eleições do mês que vem, o atual governo quer mostrar para a população que pode ser tão pior quanto os que almejam chegar ao poder com o ultra-fundamentalista Binyamin Netaniahu, o qual consegue ser pior que Ariel Sharon. Se Netaniahu chegar ao poder, o projeto "Grande Israel" pode começar a ser posto em prática efetivamente. Esse projeto é antigo e baseado em aspirações religiosas, pois como eles acreditam que aquela terra foi concedida por Deus à eles, então defendem a expulsão de todos os palestinos e deportação dos árabes que vivem em Israel.
Depois de uma trégua com o Hamas, Israel diz que esse a violou lançando foguetes. Só que Gaza está sitiada desde que o Hamas expulsou o Fatah (facção palestina rival). A partir disso Israel fechou sua fronteira, cortou o fornecimento de água, eletricidade e de alimentos e não parou com a perseguição e assassinato de palestinos. Agora, além de a imprensa internacional estar sendo proibida de relatar o que realmente está acontecendo, Israel não deixa chegar perto nem observadores internacionais e ajuda humanitária. Hospitais estão lotados de feridos e não têm como atendê-los e alguns estão sendo bombardeados junto com escolas, universidades e mesquitas. Tudo isso para acabar com a infra-estrutura do Hamas, ou seja, da população inteira da Faixa de Gaza. Israel quer levar isso até as últimas consequência nem que extermine os 1,5 milhão de palestinos que vivem confinados naquela pequena região. Acho que mesmo que isso ocorresse, eles iriam estar "argumentando" que fizeram isso para se defender e que foi tudo culpa do Hamas e com certeza os EUA apoiariam e a ONU e o resto do mundo iriam lamentar e ensaiar alguma resolução que nunca seria seguida por Israel e ficaria por isso mesmo.
Enquanto os palestinos não tiverem direito à um estado autônomo e Israel não parar de construir assentamentos ilegais, confiscar terras palestinas e ainda construir um muro segregacionista a situação tende sempre a ficar pior. A paz é uma utopia no mundo de hoje, pois todo esse conflito que têm raízes políticas e religiosas satisfaz e enriquece cada vez mais a indústria armamentista, da qual no caso, Israel também faz parte.
Obs: Agradeço ao Érich da tribuna que publicou esse artigo na edição revista do jornal A Tribuna e pode ser acessado nesse endereço:


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Um comentário:

Anônimo disse...

GOSTEI E CONCORDO COM COM TODO O DITO EM SEU ESCRITO. ACREDITO TAMBÉM QUE PAZ É ALGO FANTASIOSO PARA O MOMENTO HISTÓRICO O QUAL VIVEMOS E TAMBÉM NÃO SEI SE O PODEMOS CONSTRUIR NA SOCIEDADE DE HOJE. NÃO ESTAMOS EM GAZA, NÃO SOMOS PALESTINOS, NO ENTANTO ESTAMOS EM GUERRA CONTRA TRAFICANTES E OUTROS MARGINAIS DE TODAS AS CATEGORIAS ENOS FAZEMOS PRISIONEIROS DOS LARES, DOS PASSEIOS PREVIAMENTE PENSADO E ELABORADO PARA QUE PIOR NÃO ACONTEÇA COM NOSSAS FAMÍLIAS,E AINDA DIZEM QUE ESTAMOS NO CÉU, QUE SOMOS LIVRES E VIVEMOS EM DEMOCRACIA. ISSO APENAS TENTA CONVERTER A INSATISFAÇÃO E MEDO O QUAL OS BRASILEIROS TEM VIVIDO.