27.3.10

O autoritarismo e violência de José Serra contra os professores

Nesta tarde de sexta-feira (26/03/2010) presenciei o horror que é a repressão policial a manifestações. Foi na Assembléia dos Professores Estaduais de São Paulo que ocorreu na frente do estádio do Morumbi, onde o intuito era chegar à frente do Palácio dos Bandeirantes (sede do governo estadual paulista). A movimentação da polícia militar (PM) era intensa e esta colocou barricadas nas ruas que levavam a sede do governo para impedir qualquer um de se aproximar do local. Depois de tomar uma chuva intensa e após começar a assembléia, nós começamos a subir outra rua, mas havia uma barreira de policiais do choque para impedir todos de passarem. Em outra rua adjacente também estava formada outra barreira de policiais da Rocam, ou seja, eles cercaram todos os acessos. Ai que entra o maior erro que é do governo em não garantir o direito democrático de ir e vir dos cidadãos, mesmo em uma passeata. Era uma manifestação de professores, pacífica e não de vândalos. Onde está a democracia? É democrático impedir uma manifestação de chegar perto da sede de um governo? Então começou haver uma aglomeração do lado da barreira do choque. A tensão estava no ar e muitos membros do sindicato estavam alertando todos para não haver qualquer confronto ou provocação. Mas a polícia ja parecia pré-disposta para o confronto. Eu estava chegando perto e sabia que qualquer pequeno motivo, ou seja, qualquer "palito" que fosse jogado contra a polícia seria o motivo para esses começarem com a violência. Foi o que aconteceu, pois quando cheguei perto pude ver alguns policiais espirrando spray de pimenta, descendo o cassetete em cima dos manifestantes e também já começaram a jogar bombas de gás lacrimogêneo e atirar balas de borracha. O estouro das bombas era ensurdecedor e o pior era o gás que intoxicava todos e fazia arder os olhos fortemente. Muitos se feriram gravemente com as balas de borracha, o que foi uma atitude covarde por parte da polícia. Teve até uma bomba, que não era de gás lacrimogêneo, que estourou perto de mim que estilhaçou para todo lado. Foi um absurdo ver professoras e professores de idade que estavam ali saírem correndo como se fossem marginais. Ai alguns começaram a revidar jogando qualquer coisa contra os policiais e o confronto se intensificou. A maioria que começou a jogar pedras não eram professores, mas estudantes universitários que apoiavam a greve. Na rua adjacente os policiais estavam mais exaltados atirando e trocando xingamentos com alguns manifestantes que começaram a jogar pedras. Os policiais correram em direção a estes e partiram para a agressão pura. Nesta hora, consegui ficar atrás dos policias junto com um cinegrafista da Bandeirantes, o qual estava perplexo e fez comentário assim pra mim: “ Esse Serra é um filhodaputa mesmo!”. Consegui filmar esse momento e também em seguida a prisão arbitrária e truculenta de um professor. Este além de algemado, recebeu socos e chutes dos policiais enquanto estava sentado no chão. Nessa hora eu estava tirando uma foto quando fui abordado de forma agressiva por um policial que chegou me empurrando, perguntando de onde eu era e mandou eu descer. E não deixou eu tirar fotos. Isso lembra muito uma ditadura e a cena da prisão deste professor e essa abordagem que eu recebi caracterizou bem isso. Também tirei foto de um policial que sacou a arma e se escondia atrás de uma árvore. Infelizmente a mídia, como sempre, deturpou novamente os fatos e reverberou e acatou somente a versão da polícia militar. Desde as outras manifestações a polícia mente sobre o número de manifestantes, pois na de hoje parecia ter umas 15 mil pessoas, mas a PM disse que eram apenas 3 mil. Na sexta-feira passada em frente ao Masp, eram no mínimo umas 40 mil e a PM disse que tinha apenas 8 mil. Nessa última manifestação, a PM fechou o espaço aéreo a maior parte do tempo, mas não sei se haveria muito interesse das emissoras em mostrar a multidão. Eu vi somente uma repórter do SBT que estava muito assustada e sua equipe também estava sofrendo com as bombas de gás. Do resto, só fotógrafos das principais agências e umas 3 jornalistas que pareciam umas “patricinhas” que também estavam assustadas com a violência da polícia, mas não viam problemas dessa em impedir a passagem dos manifestantes por uma rua. Por isso acharam que a culpa foi dos professores. Depois de chegar em casa, fui ver os telejornais e portais da internet, onde o que estava dominando a pauta das reportagens era o caso da Isabella Nardoni. Pude confirmar aquilo que eu sempre critico que é a manipulação das notícias na grande imprensa. O cinegrafista da Band filmou tudo, mas ele não edita as imagens e no jornal da noite não vi nada sobre a manifestação. Mesmo nos outros jornais a notícia foi rápida e mostrou como se nós fossemos os agressores. Nos portais e na TV disseram que os policiais “reagiram” e apenas e mostraram alguns professores feridos. Houve policiais também feridos, mas lá no meio eu vi muitos deles passando mal devido as próprias bombas de gás jogadas pelos outros colegas que estavam mais acima. A mídia, em geral, está apoiando Serra contra os docentes do estado. Boicotam a greve e dão pouco destaque as manifestações e ainda deturpam o sentido destas fazendo coro com o governo de que tudo é eleitoral. Garanto que se essa manifestação fosse na Venezuela de professores contra o Hugo Chávez, ai sim toda a imprensa iria repetir as imagens retratando os professores como vítimas de um regime ditatorial e a polícia truculenta. Mas como é o Serra, então não podem fazer muitas manchetes e reportagens negativas a seu respeito. É a mídia e o Serra trabalhando juntos para elegê-lo. No final, o governo não negociou e atrelou uma possível negociação somente com a paralisação da greve. Isso demonstrou o descaso do governo do PSDB com a educação. Faz 16 anos que estão no poder e não fizeram nada para melhorar não só o ensino, mas principalmente a situação das escolas e os baixos salários dos professores. É uma vergonha! Eles apenas investem bem nas propagandas mentirosas – essas sim eleitorais- do governo do estado de São Paulo. Também é lamentável a truculência da PM contra os professores, pois eles também recebem tão mal quanto nós. Na conversa informal com vários policiais que acompanharam a manifestação de forma pacifica semana passada e hoje, eles relatam a precariedade da situação deles. Muitos têm mais de um emprego para ter um salário mais digno no final do mês. Infelizmente a atitude da PM paulista é a repressão contra os mais fracos, ou seja, daqueles que não têm recursos pra se defender. Não tem nem um espaço na imprensa para fazer isso. É só ver como ambulantes, moradores de favelas e de terrenos ocupados, estudantes universitários e professores são tratados nas manifestações. É assim a política de negociação do (des)governo tucano com esses setores da sociedade paulista, ou seja, é na base da repressão.

Para finalizar deixo essa foto de uma professora depois da violência sofrida por ela e outros tantos que ali estavam somente reivindicando seus direitos e uma situação melhor de trabalho. Olhe bem para ela e verá que esse é o perfil da maioria do corpo docente estadual paulista. Será que ela representa uma ameaça a ordem pública? Parece ser uma “baderneira” ou vândala? Não, ela é uma professora, assim como todos nós, cansada de ser enganada e humilhada todos os dias quando enfrenta salas lotadas, sem condições de trabalho e no final receber uma mixaria. Como dizia o personagem - professor Raimundo - do Chico Anysio que naquela época já sabia: “ e o salário ó!” Abaixo os vídeos que fiz durante a manifestação:

Esse primeiro vídeo é o início da confusão:

Esse segundo vídeo são os policiais partindo violentamente para cima de alguns manifestantes:

Nesse terceiro vídeo mostra como é a ditadura do Serra contra seus opositores:

Depois dessa cena, esse professor foi obrigado a sentar no chão algemado e foi chutado e levou socos dos policiais numa atitude extremamente covarde por parte destes.


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18 comentários:

Washington disse...

Caro professor, ontem estivemos unidos para mostrar ao governador que não temos medo de cara feia e de polícia, vamos manter a greve e intensificar nossa luta.
Professor Washington

Israel disse...

Fora Serra!

òtimo artigo Beto.

Avelino disse...

Caro Beto
Também estive lá e vi essa professora.
A cena foi violenta, eu estava sobre o caminhão e vi o rosto de alguns policiais, achei-os muito jovem e talvez inexperientes para um fato assim. Eu estava sobre o caminhão, quando vou fotografar do lado direito, para quem sobe, no momento seguinte, eu senti o gás pimenta, do lado esquerdo.A turma do deixa disso, na hora que percebeu que já havia professores passando mal, não conseguiu mais conter ninguém.O pau comeu.
Saudações

Anônimo disse...

Tambem sou professor e estava lá, mas não sou hipócrita, eu sabia que acabaria em conflito e a intenção era essa mesmo, como a policia não poderia permitir manifestações perto do palacio, pois isto é proibido por lei, então o que aconteceu era previsível, muita gente entrou de gaiato, massa de manobra mesmo. Tambem ví muito policial apanhar de paulada. Achei que tinha umas 4 mil pessoas, não mais que isso...

Bruno Peron disse...

Beto,
Seu texto sensibiliza. Parabéns por se manifestar e flagrar esses momentos de primeira mão. Isso só nos contribui a desvelar a quem serve a força pública e quem é José Serra, o consagrado político dos grupos poderosos. O acontecimento é bastante grave do ponto de vista do pretenso avanço da democracia no Brasil. Onde está a liberdade de expressão e manifestação que os grupos poderosos dos meios de comunicação tanto prezam? Que polícia é essa que reprime manifestações? Como se ela própria não precisasse também de aumento de salários e melhora de condições de trabalho. É uma covardia que a polícia tenha usado armas contra manifestantes desarmados e com reivindicações justas. Que inversão de valores! Teríamos que sugerir também a revisão da proibição de manifestações próximas do Palácio dos Bandeirantes. O movimento mais sensato seria a meia-volta da polícia e a união dela com os professores grevistas a favor de melhorias de salário e da credibilidade na categoria. Onde está o cultivo da educação? A grande imprensa teve a tara de expor, nos mínimos detalhes, o caso da defenestração de Isabella Nardoni e o julgamento. Apesar do fato lutuoso, quantos morrem por dia neste país de crimes piores e não ganham espaço nos meios de comunicação? Estamos atentos.

Anônimo disse...

Eu não sabia que havia zona de segurança ao redor do Palácio dos Bandeirantes. Desde quando é normal proibir acesso de manifestantes nas proximidades do palácio do governo? Isso é democracia?
Aqui no Paraná os manifestantes chegam debaixo da janela do governador e a imprensa vive chamando o Requião de ditador...

Angela disse...

Caro Colega.

O Serra é fruto da ditadura militar. Preferiu o exílio político CHILE, França, aprendeu ser déspota. NO estado de S.P. a lei da mordaça é usada contra os professores, a mídia comprada por ele tem receio de ser multada. SÓ passam mentiras em relação aos professores. NÃO esqueçamos que no período ditadorial , os meios de comunicação era permitido relatar os desmandos do governo. Estamos novamente na ditadura truculenta do Serra. Onde está a "democracia".

professora ANGELA

Gleison disse...

Beto, parabéns pelo texto. Sou solidário ao movimento. Acesse também meu blog e veja o artigo "A realidade do serviço público"
http://www.servtjsp.blogspot.com/
Abraços
Gleison

David disse...

Belo texto, eu tb estava na manifestação e a covardia dos PMS foi de lascar, disparando balas de borracha, jogando bombas e gás. O pior é que estávamos bem longe do palácio, tinha muito chão até chegar lá...

David disse...

KKKKKKK, é verdade, esses e-mails falando que o presidente é um vagabundo beberrão e a Dilma terrorista são os melhores! como alguém que esta sujeito aos desmandos e ao slário de fome do PSDB pode repassar uma coisa dessas?

Ultimamente venho repassando todos os textos que considero úteis para os meus contatos, para de alguma maneira tentar desfazer essa imagem que a mídia esta construindo sobre nós, grevistas. Repassei o seu tb. A internet esta aí pra isso mesmo, já que os grandes canais de comunicação estao sempre defendendo os interesses tucanos, nos resta fazer essa contra-argumentação pelos blogs, e-mails, etc...

Abraços!

Letícia Reis disse...

Olá,

Moro em Goiânia e também sou professora. É um absurdo, mas não uma surpresa, a maneira como os professores foram tratados neste episódio. Mas vale resaltar que neste contexto não está somente a desvalorização do professor, mas o real papel das policias militares no nosso país. Este ano em Goiânia sofremos também agressões policiais, mas ao contrário de vocês não era uma manifestação e sim um evento de carnaval festivo e pacífico. É díficil de entender, mas aqui a alegria carnavalesca tão celebrada na cultura brasileira foi agressivamente reprimida com gás de pimenta e cacetetes: http://dancarolagens.blogspot.com/2010/03/violencia-policial-no-carnaval-de.html

Força caros companheiros!

jonas disse...

Sou o professor Jonas e também estava lá, confirmo todo o texto escrito.Não me curvo e nem me acovardo diante do opressor. Vou à luta com meus colegas em defesa da existência da escola pública. Percebe-se claramente que a história se repete, ou seja, ela é contada apenas como a única história por parte da imprensa e sabemos o perigo de se contar uma única história, além de nos cegar nos faz esquecer todos os bravos que deram suas vidas para que os ditadores sucumbissem. Abraços e até dia 8 de abril rumo à invasão do prédio da secretaria de educação.

Mauricio Lovadini disse...

Pois é Beto, passamos por momentos de tensos na ultima sexta-feira, Serra mostrou a sua face, por isso não podemos desanimar, a nossa arma é o convencimento, essa luta é nossa e venceremos.

Professor Zezito disse...

Colegas,

Sou professor de História e me solidarizo com a luta de vocês.
O relato está (re)publicado em
http://blogshist.blogspot.com
Abraço,
Professor Zezito
Aracaju- Sergipe

Anônimo disse...

Excelente artigo! Também sou professora e apóio totalmente o movimento.

Precisamos mesmo de artigos, blogs, emails, sites, e tudo o que for possível, para mostrar o "outro lado da moeda", aquele que a grande mídia, controlada pelo PSDB não mostra. Quem sabe assim, conseguiremos abrir os olhos e mentes das pessoas que ainda acreditam nas (des)informações veiculadas por elas.

O que realmente não consigo entender é como professores, que sentem na pele, no seu dia a dia, os problemas da educação abandonada pelo PSDB e pelo Serra, ainda podem ficar contra a greve e a favor das ações ditatoriais do governador. Como conseguiremos incutir em nossas crianças e jovens a valorização e respeito aos direitos democráticos de liberdade de expressão e reivindicação (entre outros), se entre os professores, formadores destas crianças e jovens, encontramos dezenas que apóiam ações contrárias a estas.

Beto - J.H.V. disse...

Gostaria de agradecer todos os comentários e todos estão cientes da luta dos professores do estado de SP por dignidade e contra esse político q é o Serra.
A professora q comentou por último foi certeira nas suas observações. Pode se identificar e é bom pra gente trocar ideias e informações.
Abraços

Letícia Reis disse...

Olá beto,

Sou professora de dança ma rede estadual de educação de Goiás. Concordo com você em relação a PM. Aqui a realidade não é diferente, e o pior é que os abusos são apoiados por uma boa parcela da população. Fico pensando, se é assim que o Serra trata os professores de São Paulo, como trataria a educação do país?!
Abraços

Leoni R Dantas disse...

A mídia e os leitores conformados com a vida que leva acham a greve dos professores uma baderna, ou como dizem “greve política”. Isso acontece porque os movimentos sociais estão muito tímidos e o sindicalismo muito enfraquecido. Algumas instituições, como a terceirização, têm contribuído enormemente para isso... Também a "privatização", o "enxugamento da máquina estatal"... Esses processos, que se iniciaram na década de 90, no Brasil, enfraqueceram a administração pública. Eles enlamearam o nome do servidor público, colocaram a estrutura do Estado como um grande elefante branco, ineficaz. Para quê? Para que a "iniciativa privada" assumisse diversas funções que são do Estado, como a saúde e a educação.
Abraços a todos.